Notibras

Instituições políticas estão prontas para lidar com cenário pós-urnas?

TSE - Tribunal Superior Eleitoral Urna eletrônica

No próximo domingo, milhões de brasileiros votarão para a escolha de prefeitos e vereadores. As eleições municipais de 2024 trouxeram um alerta para o Futuro da política brasileira. Trata-se do instituto do voto envergonhado.

Algumas características já eram esperadas nas eleições de 2024, porém trouxeram, e se revelaram mais significativas do que os analistas previam: o voto envergonhado em Pablo Marçal.

Em meio a um cenário de polarização, desconfiança nas instituições e uma desilusão crescente com a política tradicional, emergiu-se Marçal, como uma figura representativa de uma nova vertente do eleitorado brasileiro, que busca uma alternativa à dualidade ideológica dominante no país.

Marçal conseguiu angariar apoio de um público que não se sentiu representado nem pelo centrão, nem pelas ideias mais ideologicamente definidas – de direita ou de esquerda.

Esse assunto levanta questões sobre o futuro político – e da democracia no Brasil. A depender de como se desenvolver, o voto envergonhado pode significar uma radicalização do eleitorado, com a emergência de candidatos que exploram o descontentamento e a desilusão para canalizar a insatisfação popular de maneira mais extremada.

Isso já foi visto em outros contextos internacionais, como nos Estados Unidos e em diversos países europeus, onde candidatos desconhecidos e fora do establishment passaram a dominar a cena política com discursos anti-establishment.

Por aqui, especificamente em São Paulo, o voto envergonhado em Pablo Marçal acendeu um alerta não só sobre o futuro de sua candidatura, mas também sobre o caminho que a política brasileira poderá seguir nas próximas décadas. Se a alienação e a desconfiança continuarem a crescer, o Brasil poderá ver uma fragmentação ainda maior do seu cenário político, com figuras de fora do convencional ganhando cada vez mais espaço.

Por outro lado, se bem direcionado, esse movimento pode servir como um alerta para as elites políticas brasileiras, que precisam reavaliar suas práticas e se reconectar com as reais demandas da população. O sucesso de figuras como Marçal pode indicar que há uma demanda por inovação e por novos estilos de liderança política, mais alinhados às aspirações de um eleitorado cansado de promessas vazias e das dinâmicas políticas convencionais.

A grande questão que surge é: como as instituições brasileiras estarão preparadas para lidar com esse novo cenário político?

O crescimento do voto envergonhado em Marçal é sintomático de uma tendência mais ampla na política brasileira: a fragmentação e alienação do eleitorado. Ao mesmo tempo em que reflete um afastamento das grandes estruturas partidárias, também revela uma crescente desconexão entre os eleitores e as pautas de interesse público debatidas pela política de elite.

O discurso de Marçal, que mistura elementos de inovação, empreendedorismo, liderança pessoal e uma retórica anti-establishment, conquistou aqueles que buscam renovação e enxergam no político uma esperança de ruptura com o sistema. O candidato apela especialmente para os jovens e para a classe média urbana, que enfrenta incertezas econômicas e se sente desconectado das disputas políticas tradicionais.

Porém, ao mesmo tempo, o perfil polarizador de sua campanha gerou uma onda de reticência entre seus próprios apoiadores, que muitas vezes temem ser julgados por declarar abertamente seu voto em público. Essa reticência deu origem ao voto envergonhado: uma parcela significativa da população que, por receber críticas ou por considerar sua escolha pessoal controversa, esconde seus interesses até o último momento.

O conceito de voto envergonhado se refere ao eleitor que, por uma série de razões — seja por pressão social, medo de retaliação ou preconceitos de parte da sociedade — opta por não revelar seu candidato ou até negar publicamente seu voto, mas que, no momento decisivo, o expressará nas urnas. Em 2024, esse tipo de comportamento tem se tornado cada vez mais presente, com um número crescente de eleitores optando por Pablo Marçal, um candidato até então visto como outsider no cenário político, cujas pautas têm apelo entre setores descontentes com as opções tradicionais.

Esse comportamento reflete, em parte, uma mudança na percepção pública sobre os políticos, com muitos brasileiros sentindo-se alienados do debate político formal e desconfiados dos partidos tradicionais. À medida que o cenário eleitoral se estende, a lição mais importante talvez seja que, em tempos de desconfiança e polarização, os jogadores silenciosos podem ser os grandes protagonistas das urnas.

De qualquer forma, as eleições de 2024 já lançaram um alerta para os partidos e candidatos: ignorar o voto envergonhado pode ser um erro estratégico grave. O eleitorado silencioso está se tornando uma força política a ser reconhecida, e entender que seus anseios e motivações serão cruciais para qualquer estratégia de campanha daqui em diante. Em suma, a aparência do voto envergonhado em torno de Pablo Marçal mostra que o Brasil está caminhando para um futuro político incerto e menos transformador.

Além disso, a ascensão de figuras como Pablo Marçal levanta questões sobre o futuro da política brasileira. Será que testemunharemos o surgimento de um novo populismo, baseado em figuras carismáticas e retóricas motivacionais? Ou será que essa insatisfação latente abrirá espaço para uma verdadeira renovação política, com novos partidos e novas formas de engajamento?

O descontentamento com as opções tradicionais e a busca por novas vozes na política indicam que o cenário eleitoral de 2024 pode ser um divisor de águas. A força do voto envergonhado aponta para a existência de um eleitorado silencioso, que pode alterar significativamente o resultado das eleições, desafiando as pesquisas e a visão dos analistas políticos.

Após anos de intensa polarização entre a esquerda e a direita, com figuras como Lula e Bolsonaro dominando o cenário, uma parte específica do eleitorado começou a procurar alternativas que fugissem dessa dicotomia.

2026 vem aí para a batalha final… ou não?!

*João Moura é filósofo e observador dos passos dos políticos e da sociedade brasileira

Sair da versão mobile