Notibras

Intriga e confusão marcam prenúncio do fim da EBN

José Escarlate

No dia 16 de junho de 1988 foi a vez do Ministro-Chefe do Emfa, brigadeiro Paulo Roberto Camarinha, que criticou duramente a política econômica do governo, especialmente o Ministro do Planejamento, João Batista de Abreu, pelo congelamento da URP, e ainda condenando o Legislativo e o Judiciário. Realmente foi uma bomba, fazendo balançar a República, que já estava frágil.

Anos depois, no seu Blog do Mamcasz, de 31de agosto de 2010, ele publicava:

“Acreditamos que a censura, existente ainda hoje no Brasil, tinha acabado com a saída dos generais-presidentes. Na época, sou o presidente, naquela semana, da EBN -Empresa Brasileira de Notícias. O ministro Camarinha, o mais velho do governo Sarney, esculhamba, durante 50 minutos, a bagunçada economia do país (naquele julho de 1988, só nas três primeiras semanas, a inflação chega aos 19,3 por cento). A entrevista vai ar, sem prévio conhecimento superior do SNI, na agência de notícias (ainda era telex), na rede voluntária de rádio (ainda era via telefone, através das sucursais em todas as capitais), e também na oficial Voz do Brasil”.

Eduardo Mamcasz estava, de fato, na ocasião, como presidente da EBN, em razão da viagem de Getúlio Bittencourt. O superintendente é o substituto do presidente da empresa em seus impedimentos. Getúlio viajara para assinatura de convênios com a ANSA – Agenzia Nazionale Stampa Associata, a principal agência de notícias italiana, com sede em Roma. Além dos noticiários em língua italiana, a ANSA publicava notícias em inglês, castelhano, português e árabe.

O fato é que a matéria balançou as estruturas do governo Sarney. Nessa altura, eu estava assumindo as minhas funções na Secretaria de Imprensa do Planalto, onde o ambiente é o pior possível. O mais revoltado era o ministro-chefe do SNI, general Ivan de Souza Mendes. “O Sarney sempre aceitou as informações do SNI. Era rotina, nada de irregular. O chefe do SNI se reunia diariamente, às 8h30, com o presidente”, garantiu o general Leônidas.

A popularidade de Sarney caia, o número de greves aumentava enquanto crescia o poder do ministro-chefe do SNI, general Ivan de Souza Mendes. Ele decidiu, com os ministros da Fazenda e do Planejamento, o que o governo poderia oferecer aos funcionários públicos.

Na greve dos petroleiros, o general Ivan de Souza Mendes passou por cima da autoridade do ministro de Minas e Energia, Aureliano Chaves. Aureliano oferecia aumento salarial de 20%, próximo aos 27% reivindicados pelos grevistas. O general decidiu que o governo só poderia oferecer 15%. Encerrou a greve, mas Aureliano pediu demissão. Na greve dos portuários, ocorreu algo parecido. A diferença foi que o ministro dos Transportes, José Reinaldo Tavares aceitou que o chefe do SNI estipulasse o aumento a ser oferecido aos grevistas.

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