O inverno é um período tradicionalmente associado a um aumento de doenças respiratórias, mas as baixas temperaturas também geram outros riscos para a saúde, e um deles é uma chance maior de ocorrência do acidente vascular cerebral (AVC). Esse cenário demanda alguns cuidados de grupos tradicionalmente mais vulneráveis ao chamado derrame cerebral, e uma atenção redobrada ao surgimento dos sintomas.
O AVC é caracterizado como uma alteração no fluxo de sangue na região do cérebro, e é dividido em dois tipos: o isquêmico, quando há uma obstrução em um vaso sanguíneo e uma ausência de sangue no cérebro, e o hemorrágico, quando ocorre um rompimento de um vaso, com transbordamento de sangue. De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2017, é a segunda principal causa de morte no Brasil.
Ana Paula explica que a maior probabilidade de ocorrência de AVC no inverno está ligada a uma tentativa do corpo de manter uma temperatura corporal alta para lidar com o frio. Para isso, organismo libera algumas substâncias, como as catecolaminas, que têm a função de comprimir o vaso sanguíneo.
“Quando você reduz o calibre [do vaso], aumenta a pressão arterial, e isso favorece o aparecimento de AVC”, explica a neurologista. Outro mecanismo de aquecimento inclui uma mudança na composição do sangue, que fica mais grosso e viscoso. Essas características facilitam a formação de coágulos, que servem como barreiras e entopem o vaso sanguíneo.
A neurologista Ana Paula Peña Dias ressalta que, no geral, os idosos compõem o grupo mais vulnerável ao AVC, e portanto devem estar mais atentos. No entanto, a médica destaca que existem cuidados simples que reduzem a chance de ocorrência do acidente para qualquer pessoa.
É comum no inverno que as pessoas sintam menos sede, por exemplo, mas a diminuição da quantidade de água no corpo torna o sangue mais grosso, facilitando a coagulação e o AVC. Assim, é importante aumentar a ingestão diária de líquidos.
Outro fator que o frio traz é uma maior tendência a sentir uma certa preguiça, geralmente acompanhada de uma redução da prática de exercícios físicos. Mas isso não faz bem para o corpo. ”É importante lembrar que a atividade física protege o corpo de todos os fenômenos cardiovasculares, inclusive o AVC”, alerta Ana Paula.
É importante também se atentar à alimentação, e evitar um consumo exagerado de alimentos mais gordurosos. Outra ação simples que ajuda a reduzir o risco de AVC é se manter bem agasalhado e com cobertores. A lógica, nesse caso, é simples: quanto mais aquecido, menos o corpo precisa trabalhar para manter a temperatura do corpo.
Além dos cuidados preventivos, é importante que as pessoas prestem atenção aos sintomas do AVC: dificuldade para falar (seja encontrar palavras ou articulá-las na boca), falta de força em braços e pernas, desvio do lábio (boca torta em um dos lados), dificuldade para andar, desequilíbrio, alteração na visão.
A neurologista destaca que os sintomas do AVC surgem de forma súbita, ou seja, se você identificou um deles mas os sente há alguns meses, o mais provável é que não seja um AVC. Mas, caso qualquer um deles apareça de forma súbita, é necessário ir imediatamente para o hospital.