Vivian Codogno
Os dias frios nem sempre anunciam a sua chegada. Além do período da estação de inverno, que no Brasil começa no mês de junho e vai até setembro – e está, portanto, em seu ponto alto – é comum que massas polares tomem conta do clima sem aviso prévio e façam as temperaturas despencarem até mesmo fora de época. Nestas horas, a possibilidade de dispor de uma lareira em casa não pode ser mais sedutora. Tanto para os apreciadores da estética invernal quanto para quem prefere apenas se sentir protegido do frio.
Ao contrário, porém, da ideia que muitos têm do equipamento, é possível ter uma lareira em casa sem que a decisão represente um estouro no orçamento, nem transforme sua instalação em uma aventura sem fim. Segundo arquitetos e fabricantes, tudo é uma questão de planejamento prévio, que começa com a escolha do modelo mais adequado para cada situação.
As tradicionais, de alvenaria, são as que demandam maior atenção, pois devem ser pensadas antes da construção ou reforma e exigem projeto específico. Podem ser instaladas em casas ou apartamentos, desde que seja uma cobertura, onde seja possível construir um duto de escoamento de resíduos.
“A lareira de alvenaria tem de ser muito bem feita. Em primeiro lugar, é preciso considerar a possibilidade de construir uma chaminé para não haver retorno da fumaça”, explica o arquiteto Max Crovato, responsável pela construção de uma lareira com visor circular e combustão à lenha, em uma reforma na casa de um casal na Granja Julieta. “Costumo brincar com meus clientes comparando o equipamento a uma banheira. Ela é um elemento fixo, vai sempre estar lá, portanto, deve ser pensada também como elemento decorativo”, diz.
Crovato alerta para o fato de que, na maior parte do ano, a lareira permanecerá apagada e, portanto, o fogo não deve ser o único atrativo aos olhos de quem a observa. No caso do projeto na Granja, a parede a seu redor foi cravejada por pedras portuguesas, que dão um toque vintage ao conjunto. “Procurei deixar o mais harmônico possível, de forma que a lareira não fosse um corpo estranho. Ela se dissolveu ali, e ao mesmo tempo cumpre bem o seu papel de aquecer a casa dos meus clientes”, explica.
Uma lareira fixa foi também a opção da arquiteta Ana Bumachar ao reformar um sobrado, mas com objetivos bem diferentes. Com o aval do casal de proprietários do imóvel, ela desenhou um móvel em marcenaria, com base de alvenaria e cimento queimado e revestida de vidro serigrafado resistente à altas temperaturas que se tornou o atrativo da sala.
“Ela ocupa o espaço ocioso entre duas portas com saída para a área externa da casa. Além disso, foi pensada para funcionar como um elemento estético, como uma peça de mobiliário, que mesmo apagada compõe a decoração. Não ficou solta, sem contexto”, explica Ana, que ressalta ainda que é difícil mensurar os custos de uma instalação como esta, daí a importância de um bom planejamento. “Toda lareira fixa deve ser muito bem pensada. Ajustes posteriores acarretam mais custos, mais tempo e mais quebradeira de chão e paredes”, esclarece.
Para quem, no entanto, não pretende se arriscar em grandes manobras estruturais, o mercado já disponibiliza alguns tipos de lareira que podem ser implementadas mesmo em ambientes já construídos. A arquiteta Isabella Marques, do escritório Fernanda Marques Associados, sugere, por exemplo, o uso de lareiras suspensas, que são fixadas em vãos abertos no teto. Como atrativo a mais, desde que instaladas próximas a uma tubulação, algumas delas podem usar gás natural como combustível, eliminando fumaça.
“Do ponto de vista estético, a peça funciona quase como uma escultura, verticalizando o ambiente e dando uma sensação de fluidez”, explica Isabella, que instalou uma peça do tipo em uma cobertura no Jardim Europa. O posicionamento do equipamento foi outro fator considerado pela arquiteta, que a colocou de frente para a escada com destino à sala, e ao mesmo tempo na fronteira do ambiente com a área externa do imóvel.
“Em um apartamento com uma planta tão horizontal como este, um objeto vertical e longo à vista de todos é algo bem emblemático”, considera Isabella. Ainda assim, para ela, o primeiro elemento a ser levado em consideração antes de implementar uma lareira em casa é a sua relevância. No caso em questão, o fato de a cobertura estar no 26º andar deixava os ambientes ainda mais frios durante o inverno. “Sem dúvida que a lareira é uma peça simbólica, atraente, mas é preciso levar em consideração se realmente ela vai ser usada. Se de fato ela é necessária em um contexto mais amplo. Pensar, além de termos estéticos, em termos funcionais”, explica.
Adepta incondicional do equipamento, mas em busca de uma solução ainda mais simplificada, a designer de interiores Monica Cintra decidiu apostar em uma peça móvel para se aquecer durante os dias de inverno. Por estar cercada por outras residências, o acesso à iluminação solar em sua casa era restrito, o que aumentava a sensação de frio. Para resolver de imediato a questão, Monica, que é designer, projetou uma lareira portátil, com recipiente de metal interno, revestimento de madeira cumaru e rolamentos. De modo que ela pudesse circular por toda casa.
“No inverno, ela me acompanha em todas minhas atividades. Desde o escritório, que é o ambiente que recebe menos luz do sol, até o banho. Ela deixa o banheiro quentinho”, diverte-se Monica, que atendendo a pedidos dos amigos passou a comercializar a peça, que passou a receber diversos tipos de madeira como revestimento.
“A parte metálica é revestida por mantas de fibra de vidro, que garantem o isolamento entre o fogo e o ferro. Assim, a temperatura da peça não sobre enquanto está acesa”, conta a designer. Como vantagem adicional, a combustão é feita por meio de álcool de cereais e dura, em média, entre três e quatro horas sem cessar. Sem fumaça e sem odores residuais.