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Inverno vem aí ameaçando mais covas no Brasil

O Brasil está a pouco mais de 40 dias de entrar na estação mais fria do ano. E com a chegada do Inverno (21 de junho até 22 de setembro, por nosso calendário) deve vir junto uma terceira e ainda mais fatal onda do novo coronavírus. O quadro que se desenha por especialistas em saúde pública é macabro. Não será surpresa se o país transformar-se, nesse período, em recordista mundial de mortes da Covid.

Um dos alertas vem do médico e neurocientista Miguel Nicolelis. Ele teme um novo pico da pandemia. “O inverno está chegando. Pouca gente está falando disso. Foi no inverno do ano passado que nós tivemos o pico da primeira onda. Dessa vez, nós tivemos uma explosão no verão. Não estão se dando conta de que o frio vem em poucas semanas . É prematuro quebrar o isolamento, como estão fazendo”, adverte.

Na literatura, no cinema, na ciência e na vida real já se convencionou associar a chegada do Inverno a um desastre iminente na natureza – ou na humanidade. A própria chegada da estação é considerada fator-chave pelo Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington para que o Brasil ultrapasse os Estados Unidos em número de mortes por Covid.

O alerta vem de tosos os lados. O Brasil acaba de fechar o mês de abril com o momento mais dramático da pandemia. Em apenas quatro meses, este já se tornou o ano mais letal desde o início da crise sanitária que já matou mais de 400.000 pessoas. Especialistas afirmam que a chegada de uma terceira onda não é questão de “se”, mas de “quando”, chegará, especialmente à medida em que os Estados começam a suavizar as medidas de restrição contra a pandemia.

A flexibilização das medidas de distanciamento, com restaurantes, salões de beleza e academias voltando a funcionar, é vista como temerária por médicos e pesquisadores. “Abril foi o mês mais letal de toda pandemia. E independentemente disso nós estamos reabrindo as atividades novamente”, afirma Rafael Lopes Paixão da Silva, membro do Observatório Covid-19 BR. Para o pesquisador, “se a medida restritiva estava dando certo é preciso continuar com ela por algum tempo para que se tenha uma margem de segurança”.

Mas, lamenta, não é o que ocorre: “Os governos veem uma leve queda na ocupação dos hospitais e começam a liberar de novo as atividades, isso é desesperador”. O médico epidemiologista Paulo Lotufo concorda. “Existe um erro básico que é usar como indicador [de reabertura das atividades e comércio] a taxa de ocupação de UTI. Isso não é um indicador epidemiológico, é um indicador administrativo”, afirma.

O prognóstico vislumbrado para o país não é bom. “[Os números] devem cair um pouco ainda, e depois ocorrerá uma nova subida. A questão é qual será a magnitude desta subida. Ninguém imaginou, por exemplo, que essa segunda subida fosse tão acentuada como foi [este ano o país já registrou mais mortes por covid-19 do que em 2020]. Se as coisas continuarem como estão, em julho já existe uma possibilidade de terceira onda”, diz Lotufo, citando as aglomerações que devem ocorrer em função do Dia das Mães aliadas à flexibilização do isolamento.

A afirmação de Lotufo pode soar alarmista, mas é compartilhada por outros estudiosos da pandemia. “Não existe razão para ficar aliviado. A queda dos números verificada na última semana é um processo natural de epidemia, vale para a dengue e várias outras. Mas ainda estamos em um patamar altíssimo. Se relaxarmos demais essa queda pode se tornar um platô, e pode inclusive ocorrer uma reversão da queda”, afirma Leonardo Bastos, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz.

Ele diz não ser possível precisar até onde os números irão baixar antes de se estabilizar. “E aí o relaxamento [das medidas de restrição] ou novas variantes podem levar a um novo surto. Não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’ isso vai acontecer. Pode ser uma onda pequena ou grande, nacional ou focada em alguns Estados. Depende muito da realidade de cada local e das políticas que foram adotadas. Ou que não foram”.

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