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Investigados pelo Supremo vão referendar indicação de Zanin

Cristiano Zanin, advogado de Lula durante entrevista coletiva após o julgamento do pedido de registro de candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da República nas eleições de outubro, no TSE.

Poetizando, “To be or not to be” vem da peça A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare. Aportuguesando, “Ser ou não ser, eis a questão” quer dizer: Continuar existindo ou acabar com a vida? Filosofando, é o mesmo que indagar a alguém: Viver na adversidade da existência ou ir ao encontro da morte e abandonar-se ao nada? Judicializando, a expressão também pode significar: O advogado Cristiano Zanin tem ou não capacidade jurídica para fazer parte do Supremo Tribunal Federal, a maior Corte do país? Por fim, politizando, é ou não é uma esculhambação o indicado de Luiz Inácio ser sabatinado no próximo dia 21 por um plenário de investigados?

É claro que, antecipadamente, sei da resposta da maioria de meus leitores. No entanto, como o texto é meu, também tenho o direito e o dever de me manifestar. É um escárnio, embora tudo na política do Brasil acabe sendo normal. Vamos aos fatos. Seguindo a norma vigente, o presidente da República indicou Zanin, seu amigo e advogado no processo da Lava Jato, como substituto de Ricardo Lewandowisk na bancada do STF. Se aprovado, o causídico será um dos infinitos 11 homens de ouro do finito país, onde se plantando tudo dá, inclusive aquele tal conde que deu e deu no que deu. Hoje, a máxima é simples: “Ou dá ou desce”.

Nem todos dão, mas o que assim agem não se arrependem. Dizem que faz parte do jogo. Quanto a Zanin, é a mais pura verdade. Nada impede que Lula o indique ao Supremo, onde já estão Toffoli, Nunes Marques e André Mendonça, todos pra lá de bons, quase ótimos, na medida do maravilhoso, sujeitos a alterações para supimpas, ainda que sejam tidos como absolutamente mais ou menos, bem próximos do ruim. Tudo culpa do conde que deu. Ou não? Talvez do Shakespeare. Pouco importa. Importante é lembrar que, caso passe na sabatina do Senado, Cristiano Zanin será ministro da Corte Suprema com o beneplácito, entre outros, dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Renan Calheiros (MDB-AL).

Nada contra um ou outro. Apenas uma alusão à mensagem de Hamlet: “Um homem pode pescar com o verme que comeu o rei e comer o peixe que comeu o verme”. Ou seja, embora precise ser vigiada, a loucura dos grandes sempre vira uma densa narrativa. Cabe a nós somente filosofar sobre o poder, a moralidade, a normalidade, a sanidade, a sacanagem e todas as demais circunstâncias da condição humana. Só para ilustrar, Ciro Nogueira é alvo de ao menos sete inquéritos no STF, um deles oriundo da Lava Jato. Renan é réu em cinco investigações abertas na Corte. Apesar desse rosário de bondade, ambos estão aptos a votar em Zanin. Parte do Senado foi renovada em 2022. Mesmo assim, 35 dos 81 senadores (43% do total) respondem a inquéritos criminais no Supremo.

Em outras palavras, Zanin pode dormir sossegado. “Nossos” representantes no Senado esperneiam, resistem, apresentam ressalvas, fazem biquinho, se opõem ao perfil do indicado, mas normalmente aprovam, se congratulam e desejam boa sorte aos indicados. Foi assim com André Mendonça, o moço terrivelmente evangélico de Jair Bolsonaro. Ele recebeu apenas 47 votos favoráveis, seis a mais do que o necessário. Desde 1891, quando o STF foi criado, houve somente uma rejeição. Indicado pelo presidente Floriano Peixoto, o médico e político Barata Ribeiro teve seu nome vetado em 24 de setembro de 1894, sob o argumento de não atender o requisito de notável saber jurídico.

Barata Ribeiro não chegou ao STF, mas virou nome de rua em Copacabana, bairro amado por dez entre dez brasileiros. Quanto a Cristiano Zanin, ele implodiu a Lava Jato e, por conta de seu trabalho na Vara Federal de Curitiba, jubilou o deputado Deltan Dallagnol e está bem perto de expulsar o senador Sérgio Moro (UB-PR), o então juiz da vara que ele afiou, envernizou e derrubou. Acham pouco? Marido de Isabel de Bragança, princesa imperial do Brasil, Gastão de Orléans, o Conde d’Eu, não acha. Como os abusos e os dentes nunca se arrancam sem dores, prefiro agir como o fraco ofendido, que normalmente desabafa maldizendo; “Que tudo vire bosta”. Sei que nada sei, mas tenho plena certeza de que Zanin é uma criação de Sérgio Moro e não de Luiz Inácio. E Zé fini.

*Mathuzalém Júnior é jornalista desde 1988

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