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Dente por ente, olho por olho

Irã avisa Londres. Tomou um navio, também perde um

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Autor/Imagem:
Bartô Granja

O Reino Unido, que administra o estreito de Gibraltar, apesar das condenações da Espanha, apreendeu na semana passada um petroleiro do Irã, que estaria supostamente transportando combustível para a Síria, contrariando sanções impostas pelos americanos. Teerã pediu a imediata liberação do navio, sob pena de responder naquela tese do dente por dente, olho por olho. Londres fez vista grossa e o petroleiro está retido até hoje. Como havia prometido, o regime dos aiatolás, sem pestanejar, apreendeu um superpetroleiro inglês que navegava pelas águas do estreito de Ormuz. E a chancelaria em Londres, desmoralizada, ameaça com represálias, avaliando inclusive uma ação militar de resgate.

França, Alemanha e, claro, os Estados Unidos, tomaram as dores da Inglaterra. E fizeram coro para que Teerã deixe que o navio de bandeira britânica siga seu rumo. Mas os aiatolás, presumivelmente com o aval da Rússia e da China, sinalizaram que acataram o pedido (dizem que não aceitam em tom d ordem) quando o seu navio retido em Gibraltar levante âncoras. O clima é de pré-confronto bélico. O Irã preparou suas trincheiras. E aliados regionais também prepararam suas armas.

Para tentar acalmar as tensões, a Otan (que congrega inclusive países islâmicos, como a Turquia, aliada incondicional do Irã) começou a se movimentar neste domingo (horário local) para buscar uma saída diplomática. A Otan diz que a apreensão de navios pelo Irã (além do britânico, outro de bandeira liberiana, liberado horas depois) representam um desafio para a liberdade de navegação no estrito de Ormuz, dominado por navios de guerra iranianos. Mas, como sabe que está pisando em ovos, o organismo que representa a aliança do Atlântico Norte, preferiu agir com cautela em discutir o assunto por vias diplomáticas.

O Irã, alicerçado por aliados poderosos – a Rússia e a China são exemplo dessa parceria – aceita conversar, mas impõe duas condições: 1) que o petroleiro retido em Gibraltar há mais de uma semana volte a navegar para seu destino; 2) as as conversações não tenham nenhum representante do governo dos Estados Unidos, localizado geograficamente a milhares de milhas da região em conflito.

Segundo a Otan, que tem países fronteiriços com o Irã, bem inferiores à nação dos aiatolás quando se trata de força bélica, Lonres resolveu recuar e tentar uma saída pelas vias diplomáticas. “O Reino Unido deixou claro que sua prioridade é abordar a situação por meio do diálogo e da diplomacia. A OTAN apoia todos os esforços diplomáticos para resolver esta situação. Todos os aliados continuam preocupados com as atividades desestabilizadoras do Irã”, diz comunicado da aliança ocidental.

O Irã, por seu corpo diplomático, acenou com uma conversa. Mas advertiu que a apreensão do petroleiro britânico nada mais é do que reciprocidade. Se pegaram um navio deles, eles também pegaram um. Teerã não gosta da moeda com a esfinge de César. Nada de dar aos britânicos o que é legalmente dos britânicos, sem que o que pertence legalmente ao Irã, seja devolvido. A chancelaria iraniana fez chegar ao conhecimento da Otan que “a regra da ação recíproca é bem conhecida no direito internacional, que é usada contra as medidas sujas de um governo”. E bateu o pé, dizendo que a apreensão do seu navio foi um ato de pirataria.

Recentemente, para mostrar que não está para brincadeiras, o Irã, usando mísseis teleguiados russos, derrubou um drone americano espião que sobrevoava seu território. O incidente provocou a ira de Donald Trump, que ameaçou mandar tropas para a região. A resposta veio de Vladimir Putin, presidente da Rússia, “Moscou não admite guerra no seu quintal. E vamos agir em defesa dos nossos interesses”. Depopis dessa posição do Kremlin, na ONU os diplomatas começaram a correr contra o tempo. Mesmo porque, eles sabem que a posição do olho por olho, dente por dente, anunciada pelo Irã, não é da boca pra fora.

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