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Temporal de paixão

Ironia do destino, Lula é quem mais ajuda Eduardo Leite

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Arimathéia Martins - Foto Valter Campanato/ABr

A chuva forte nos Pampas lavou a alma de muitos brasileiros. Assim como surpreendeu meio mundo, a tempestade que matou dezenas e desabrigou milhares de gaúchos, incluindo o lorde Renato Portalupi, um dia vai passar. As janelas do Rio Grande do Sul voltarão a ser abertas para que o senhor Sol volte a entrar. A chuva passará, mas não a história do Estado que um dia quis se separar do Brasil e que recentemente se voltou contra o presidente que, ironicamente, mais o ajudou. Apesar dos exageros do bolsonarismo emburrecido, a solidariedade nacional em benefício dos Pampas mostrou que, ao contrário do que prega a turma do Jair, o país não está dividido entre “patriotas” e gente ruim.

São as respostas divinas aos hereges da Terra. A lição foi dada. Usá-la ou descartá-la é uma decisão de foro íntimo. Cada um com seu cada qual. É o livre arbítrio. O que me permito dizer é que a descrença pregada, entre outros, pelas atrizes Cássia Kiss e Regina Duarte não passou de expectativa. Se a avaliação for honesta, qualquer um perceberá que, na realidade, incluindo alguns “patriotas”, a maioria do povo ainda é altruísta. Acabou o tempo da divisão. Governar só para conservadores riquinhos não significa somente perder o bonde da história.

É deixar de ser eleito ou reeleito, virar entulho político e receber, com louvor, o título presente ou futuro de Judas. No pior dos cenários, o governador Eduardo Leite, diante do presidente Luiz Inácio, pediu trégua na polarização política em defesa da união pelo Rio Grande do Sul. Pendular desde sua fracassada candidatura à Presidência da República, Leite já foi do céu ao inferno em 180 dias. Apoiador de Jair Messias em 2022, em fevereiro e em meses anteriores, ele foi contundente nas críticas a Bolsonaro como gestor do golpe.

Até o início do temporal, o governador se dizia desejoso de uma união com os colegas bolsonaristas Tarcísio de Freitas (SP) e Romeu Zema (MG) como alternativa a Lula em 2026. A chuva chegou e, ao que parece, o pêndulo começou a badalar mais à esquerda. Não tenho bola de cristal, mas sei que política é a arte do possível. Como anunciou um velho dirigente de futebol, quem está na chuva é para se queimar. Basta uma olhadela de canto no resultado da tragédia do Sul para se certificar quem foi que choveu no molhado e acabou chamuscado.

Como quem apanha jamais esquece as porretadas, que venha 2026. Diz o ditado que, quando o cabra está com azar, não adianta ele se cobrir com capa de chuva, porque o passarinho ou o urubu vão arrumar um jeito de cagar na ponta do seu nariz. Em alguns casos, até a erisipela aflora sem querer. Ou não. Eduardo Leite e os seguidores do cristianismo de Bolsonaro têm de torcer para que, ao longo da recuperação, Porto Alegre e cidades vizinhas não voltem à época da lata d’água na cabeça. Aí será o começo do fim de uma lenda que em breve vira fumaça. Lembro que, nos idos anos 60, um antigo jornalista e escritor dizia que a gente pode dizer e escrever um monte de besteiras em grego ou em latim.

O exemplo dele era simplório: “Auribus teneo lupum”, isto é, segurar um lobo pelas orelhas. Como em português as palavras viram documento, o sapo barbudo certamente já arquivou o custo para salvar o Rio Grande do Sul do maior desastre natural de sua existência. Adianto que será desnecessário se socorrer dos ensinamentos do Jair, cuja postura como presidente em 2021, na crise gerada pelas fortes chuvas na Bahia, foi desastrosa. Enquanto os baianos nadavam contra a maré em busca da vida, Bolsonaro se divertia de jet-ski nas praias de Florianópolis. Nada de mais para quem já defendeu a cloroquina para o tratamento da Covid-19. Portanto, distribuir fake para desqualificar Lula não mudará o cenário negativo para o bolsonarismo. O temporal que acabou com parte do Rio Grande do Sul não é de ilusão, tampouco de paixão. Ele é real e caiu pesado na cabeça oca dos plantadores de desgraça.

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