A cidade do Rio de Janeiro vem reduzindo a velocidade da expansão do contágio pelo novo coronavírus. Esse indicador, que já chegou a 0,06 há cerca de uma semana, atingiu nesta segunda (18) a marca de 0,039. De acordo com o responsável pelo cálculo, o economista e professor de pós-graduação do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Thiago de Moraes Moreira, ainda é cedo para falar em retomada das atividades, mas é possível constatar que as medidas de isolamento na cidade têm surtido efeito.
“É importante que as pessoas que estão respeitando a quarentena também se vejam na estatística. Fica todo mundo com medo de aparecer na estatística de contaminados ou de mortes. Mas, quando a gente vê que o resultado da quarentena está produzindo efeitos, acho importante bater nessa tecla de que faz diferença”, diz.
Moreira faz parte do gabinete científico da prefeitura do Rio, que reúne especialistas para auxiliar a prefeitura a definir medidas para reduzir o contágio pelo novo vírus. Diariamente ele calcula, com base no número total de infectados no município, com qual a velocidade o vírus se espalha na cidade.
“É importante a gente dar uma boa notícia, até com intuito de mostrar para a população que o sacrifício está produzindo resultados. É muito ruim, pelo menos para a grande maioria, que está respeitando a quarentena, olhar diariamente para os veículos de imprensa e parecer que não está adiantando de nada e que os números só crescem, que só está piorando. As pessoas começam a questionar a própria efetividade da quarentena. É importante dizer que sim, está e tem-se resultados importantes”, diz.
Aumento de casos
A redução da velocidade não quer dizer, no entanto, que os casos estão reduzindo, pelo contrário. De acordo com o boletim da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, a capital concentra o maior número de casos e de mortes pela doença em todo o estado do Rio de Janeiro. Há uma semana, eram 10,6 mil casos confirmados e 1,17 mil mortes, segundo os dados do dia 11. Nesta segunda-feira, esses números chegaram a 13,4 mil casos e 1,96 mil mortes confirmadas.
“O fato da velocidade estar caindo não significa dizer que o número de contaminados esteja caindo, significa dizer que está crescendo em um ritmo percentualmente mais lento. Não significa que o número parou de subir ou que está crescendo menos, continua em expansão, em franca expansão, mas quando a gente faz esse cálculo da velocidade, houve de fato uma pequena redução”, explica.
Retomada
Segundo, o especialista, para que se possa pensar em uma retomada das atividades na cidade, é preciso que haja uma desaceleração ainda maior. O prefeito Marcelo Crivella apontou uma velocidade de 0,01 como um possível patamar. Moreira destaca que é preciso também levar em consideração outros fatores além do contágio, como a estrutura do sistema de saúde e a disponibilidade de leitos para os casos mais graves da doença. Segundo ele, é importante que seja observada uma tendência de queda da curva por pelo menos duas semanas.
Moreira calcula não apenas os dados da cidade, mas também de outros países, como a Itália e a Espanha, que estão lentamente reabrindo as lojas e permitindo uma maior circulação de pessoas após um período de bloqueio rígido. Isso permite uma comparação do avanço da doença e pode orientar tomadas de decisão. O economista estima que, caso seja feita uma “quarentena de alta qualidade” será possível, em quatro semanas, começar um processo de reabertura do Rio.
“Uma alta qualidade de quarentena significa as pessoas respeitando o isolamento, significa as pessoas se conscientizando em relação a importância de só sair de casa quando for de fato essencial. A saidinha para correr, para ir na casa do amigo, para fazer isso, fazer aquilo… Quando a gente, coletivamente, tem esse comportamento da saidinha aqui, ali, isso prejudica muito o controle macro”, diz. De acordo com Moreira, caso as medidas de isolamento sejam apenas parcialmente cumpridas, a situação pode se prolongar por até 3 meses até que a velocidade seja reduzida a um nível seguro para a retomada.
No Rio de Janeiro, as aulas estão suspensas e espaços de grande aglomeração como teatros e cinemas estão fechados. A prefeitura chegou também a fazer bloqueios em determinados bairros para reduzir as possibilidades de contágio pelo novo vírus.