A campanha eleitoral para a prefeitura de Foz do Iguaçu ganhou novos contornos com o envolvimento da diretoria brasileira de Itaipu Binacional. Liderada pelo diretor-geral Ênio Verri, a gestão da usina tem sido acusada de utilizar sua estrutura para apoiar um candidato à prefeitura, o que levanta questionamentos sobre a interferência da empresa pública no cenário político local.
Verri, que antes de assumir o cargo de diretor-geral precisou renunciar ao mandato de deputado federal pelo PT-PR, parece não ter se desvencilhado de suas raízes políticas. Agora, Itaipu aparece ligada ao apoio de uma coligação, encabeçada por um candidato que, apesar de não ser do Partido dos Trabalhadores (PT), conta com o respaldo de uma aliança partidária que inclui legendas da esquerda, como a Federação Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV).
Um dos episódios que mais chama atenção nesta controvérsia envolve o uso da estrutura de Itaipu para requerer direitos de resposta em programas eleitorais exibidos por um adversário direto, o general Silva e Luna, ex-diretor-geral da usina e candidato à prefeitura. De acordo com informações levantadas pela reportagem, dos sete pedidos de direito de resposta apresentados pela Itaipu, todos foram extintos de forma sumária pela juíza eleitoral responsável, que apontou a falta de legitimidade da usina para interpor tais solicitações.
Além disso, circula na imprensa uma suposta “Notificação Extraoficial” enviada pela Itaipu a Silva e Luna, exigindo a devolução de benefícios recebidos por ele e pela diretoria de sua gestão. A cobertura dos veículos de comunicação sugere que a notificação seria um movimento significativo, mas a análise dos fatos indica que tais benefícios estavam garantidos por acordo coletivo, aprovado em 2018, quando a parte paraguaia da Itaipu já havia realizado pagamentos similares aos seus funcionários. A exigência de isonomia, portanto, tornou-se uma pauta legítima para os empregados brasileiros da usina.
Em busca de transparência, nossa equipe entrou em contato com a Ouvidoria da Itaipu solicitando a relação detalhada dos pagamentos de benefícios e abonos feitos aos diretores da Usina entre 2017 e 2024. A resposta obtida, entretanto, apontou para a confidencialidade das informações, com base nas normas internas da empresa, que protegem o sigilo das manifestações feitas à Ouvidoria e os dados solicitados.
No entanto, ficam em aberto algumas perguntas essenciais sobre o envolvimento de Itaipu neste cenário:
Por que Itaipu, uma empresa binacional, decidiu intervir pedindo direito de resposta em programas eleitorais, ao invés de manter uma postura neutra diante das disputas políticas?
Qual a origem de uma notificação extraoficial, supostamente inexistente, justamente no período eleitoral, voltada contra um ex-diretor da usina?
O que motivou Ênio Verri, diretor da multinacional, pedir votos para o candidato apoiado por Lula e Geraldo Alckmin?
Por que o nome de Itaipu tem sido utilizado livremente nas propagandas eleitorais da coligação “Foz de Toda Gente”, sem que haja uma manifestação clara da empresa sobre o assunto?
Até o momento, a assessoria de comunicação de Itaipu não ofereceu esclarecimentos formais sobre essas questões, mas a redação aguarda uma resposta oficial para atualizar o público sobre o posicionamento da empresa.