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Itamaraty, ‘science-fiction skyline’, enfim abre as portas em Brasília

José Escarlate

20 de abril de 1970. Dia do Diplomata, tempo de festa com a inauguração do Palácio Itamaraty, pelo presidente da República e pelo chanceler Mario Gibson Barbosa. A transferência do MRE para Brasília mobilizou muitas idas e vindas, durante anos, com a formação de diversos grupos pró e contra a mudança.

Segundo o jornalista Manuel Mendes, que seria pouco tempo depois meu colega no Correio Braziliense, e que cobria a área das Relações Exteriores, um diplomata disse ser compreensível “o esforço que muitos faziam para impedir ou mesmo retardar as mudança para Brasília”.

Poucos dias antes da inauguração, atearam fogo ao sistema de ar refrigerado do prédio. Em duas semanas tudo foi recomposto. O diplomata explicava: “Não nos parecia fácil deixar o Rio, nossas famílias e amigos, as praias, a vida rotineira de cada um. Mas a mudança aí está, completa, decisiva, indiscutível. O melhor agora é procurar cada um se integrar à vida de Brasília e nos acostumarmos com ela, com o que a cidade tem. Seria tolice exigir de Brasília uma Copacabana, mas em compensação, aqui temos um clima realmente magnífico e os apartamentos que nos deram não os teríamos no Rio”.

A grande festa começou às 11 horas, com o hasteamento, pela primeira vez, do pavilhão brasileiro no alto do mastro de 18 metros, em frente ao novo palácio. A seu lado, tremulava a bandeira-símbolo do Presidente da República. Presença de ministros, membros do Corpo Diplomático e convidados especiais, Médici, o vice Augusto Rademaker e Gibson Barbosa entregam as 115 condecorações da Ordem do Rio Branco, nos seus diversos graus, a personalidades de destaque.

Entre os agraciados estava Édson Arantes do Nascimento, o Pelé, que três meses depois se consagraria tri-campeão mundial de futebol, na Copa do México. Pelé recebeu a Ordem Nacional do Rio Branco, no grau de Grande Oficial, e foi o dono da festa. Apesar da segurança reforçada, jornalistas invadiram a área reservada aos agraciados, depois evacuada. No belo auditório, com suas 330 poltronas totalmente ocupadas, 50 novos diplomatas receberam os seus diplomas.

O curioso da cerimônia de formatura dos novos diplomatas foi que, quebrando uma tradição, a turma de 1970 não teve orador oficial e muito menos um paraninfo, uma das mais rígidas tradições do Instituto Rio Branco. Naquela época, o governo revolucionário tinha medo de tudo. Via chifre em cabeça de cavalo. Em solenidades desse tipo temia discursos de protesto e até mesmo a escolha de paraninfos que não fossem alinhados ou abençoados pelo regime. E, normalmente, nas cerimônias de colação de grau da nova turma de diplomatas, o orador oficial teria que ser o primeiro colocado no curso.

À época, o embaixador Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva era o Diretor do Instituto Rio Branco e o diplomata primeiro colocado da turma era Gelson Fonseca Júnior, que ganhou a medalha de ouro, seguindo-se Luiz Fernando de Oliveira e Cruz Benedini, segundo colocado, agraciado com a medalha de prata.

Médici e dona Scila, a primeira dama, percorreram o Itamaraty, com Mario Gibson Barbosa e sua esposa, dona Yolanda, o embaixador Jorge de Carvalho e Silva e senhora e o embaixador André Mesquita, que chefiava o Cerimonial do ministério. À noite, Brasília viveu seu momento de elegância e beleza, marcando de forma indelével a inauguração do Palácio Itamaraty, uma das mais belas obras criadas pelo gênio de Oscar Niemeyer.

O desfile era completo, com vestidos longos, casacas condecoradas de maneira distinta e excepcionalmente elegantes, e gravatas pretas. À entrada, os Dragões da Independência, em seus uniformes de gala, formavam a grande ala por onde caminhavam os convidados pela passarela, onde a bela escultura “Meteoro” parecia flutuar no espelho d’água do novo palácio. Surpresa maior para todos era a linda e majestosa escada helicoidal, logo à entrada do grande salão.

Tudo no Itamaraty, além de novo, era de extremo bom gosto. O buffet foi um show à parte, enfeitado por candelabros e diversos tipos de orquídeas. Naquele momento, o Brasil já começava a viver o seu milagre econômico. O sonho, em meio à crise. Os jornais do mundo inteiro deram destaque à inauguração e todas as matérias eram acompanhadas de fotos do novo palácio. A imprensa estrangeira ficou extasiada. Um jornal americano, o “Sun”, disse que Brasília criou a “science-fiction skyline”.

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