O deputado federal Izalci Lucas e o presidente destituído Márcio Machado jogaram a toalha e desistiram de disputar as eleições das zonais do PSDB brasiliense, programadas para este domingo 17. Com esse gesto, sepultaram a disputa democrática. Os dois grupos tentam justificar a saída do cenário como forma de protesto à uma suposta falta de isonomia partidária.
Melhor para Raimundo Ribeiro, dizem os correligionários do deputado distrital. De certa forma é verdade. Há uma pendência judicial sobre se haverá o pleito. Mas se as eleições vingarem, o ex-líder de Rodrigo Rollemberg na Câmara Legislativa estará alçando voo solo em direção ao ninho tucano.
As bicadas entre os tucanos vinham sendo registradas desde a semana passada. Na noite de sexta-feira 15 uma manobra jurídica tentou impedir a eleição. A crise ganhou contornos maiores neste sábado, quando duas das três chapas concorrentes pelo comando das 21 zonais decidiram retirar a candidatura.
Grupos liderados por Izalci Lucas e Márcio Machado protocolaram documento na sede da sigla reclamando dos rumos do processo eleitoral. Já os partidários de Raimundo Ribeiro parece inspirar-se em I-Juca Pirama – um filho teu não foge à luta.
Izalci registrou todo o seu inconformismo em carta à direção do partido. “Tenho presenciado nesta campanha para as eleições dos diretórios zonais um jogo rasteiro, pautado por ataques pessoais injustificados e pela falta de cumprimento da palavra empenhada”, escreveu ele em carta endereçada a Eduardo Jorge, interventor licenciado do PSDB regional.
Reeleito deputado federal pelos tucanos no pleito de 2014, Izalci, que deu os primeiros passos em direção ao Legislativo pelas pernas do PR, classifica como ponto crucial da discordância entre os três grupos a negativa para se unir as correntes em todas as regiões que têm uma célula da legenda. Filiados dessas cidades, avalia o parlamentar, estariam impedindo o consenso.
Izalci receia mais uma vez pelo declínio aéreo dos tucanos. Em parte o medo é compreensível, quando se remete a abril de 2013, período em que foi preciso uma intervenção no partido por conta de divergências ideológicas. Na época, Eduardo Jorge assumiu o comando do ninho.
Um interlocutor do grupo de Márcio Machado, que preferiu não se identificar, também faz comparações. “Todas essas manobras vêm sendo orquestradas pelo mesmo grupo que levou o PSDB ao pífio desempenho eleitoral obtido nas últimas eleições do Distrito Federal”, reclamou, recorrendo a um anonimato pouco usual nas esferas políticas.
A versão do deputado Raimundo Ribeiro, único sobrevivente remanescente da batalha que não haverá, é diferente. Ele entende que a retirada das duas chapas foi uma atitude indevida. Mas diz desconhecer o motivo que desencadeou essa atitude. Sustenta também que, ao contrário do que alegam seus adversários internos, partiu dele a iniciativa de procurar abrir diálogos com os outros grupos para se chegar a um consenso.
Essa consonância deveria ser construída dentro das normas estatutárias. E isso, garante Raimundo, não ocorreu. Ele lembra que os adversários tentaram o registro de depois de vencido o prazo legal, respeitado o regimento interno do PSDB.
O distrital também acredita que deveria haver a disputa, já que estão dentro de um partido político. Com a retirada de outras duas chapas, restou apenas a chapa liderada por Raimundo Ribeiro. A disputa é essencial para fortalecer o nome que deverá comandar o partido nos próximos anos. É que, vencido o pleito das zonais, será eleita em junho a direção regional da legenda.
Questionado sobre como enfrentará a disputa deste domingo, já que não terá adversários pela frente, Raimundo Ribeiro é contundente. “(Vou) de forma tranquila, pois é o reencontro com a verdadeira militância”.
A leitura que se tira desse cenário é a de que o comando do PSDB-DF pudesse estar mais alinhado ao distrital Raimundo Ribeiro ou vice-versa. Teoria negada pelo parlamentar. “A direção do partido, mesmo com a licença de Eduardo Jorge está conduzindo o processo com toda a imparcialidade devida”, garantiu. Um lembrete: Maria de Lourdes Abadia, que atuará como árbitra na disputa das zonais, é ligada a Raimundo Ribeiro.
José Seabra, com participações de Elton Santos, Felipe Meirelles e Ricardo Coimbra