Fã incondicional de palavras com conceitos conhecidos, mas grafadas e ditas de forma ou sentido diferente (às vezes nada lisonjeiras), tenho me apegado cada vez aos chamados neologismos. Podemos classificar como neologismos termos que não existiam e passaram a existir, independentemente do tempo de vida. Há os caretas, os engraçados, os mais usuais, os ideológicos, os ultrapassados e aqueles que pais nenhum gostariam de ouvir dos genros e noras. Embora não divirja, gosto pouco dos tibum, chuá, puf, supimpa, cáspite e cataplaft. Peguei nojo mesmo foi do cocacolizar, fidelizar e bolsonarizar. Prefiro a sonoridade do Lula lá lá e, agora, do Fláviodinozar (este é de minha autoria).
Entre os mais usados, morro de rir com o novo sentido modernista de gato, véio, mané, zebra, mico, mala, barraco, laranja, quadrado e bofe, este mais ultrapassado do que siri com câimbra. Hoje, é mais fácil dizer “meu marido”. E pouco importa quem seja a esposa. Agoniante é ainda conviver com misoginia, feminicídio, transfobia, homofobia, esquerdofobia, etarismo, gordofobia e agrafobia (medo de abusos sexuais). Além da acrofobia (medo de altura) e da ablutofobia (medo de tomar banho), estou tentando junto ao Ministério da Educação do mundo moderno fulanizar mitofobia, bozofobia, direitofobia, relogiofobia, joiofobia e golpefobia.
Um dos neologismos mais atuais me lembra um refrigerante à base de laranja e muito consumido nos anos 60 e 70. Crush, cuja tradução literal do inglês é esmagamento ou colisão, virou um sentimento de intensa paixão por alguém. No meu tempo, apelidávamos esse tipo de sensação de tesão, que hoje é delicadamente denominado de enorme vontade de fazer amor. Que coisa piegas. Coisas do Brasil e do mundo novidadeiros, nos quais conjugações verbais lindas e sonoras foram transformadas em algo mais sem graça do que dizer clímax em lugar de prazer.
Por exemplo, o singelo fornicar hoje chamam de transar. No popularesco, o prazeroso ato é denominado jocosamente de molhar o biscoito, afogar o ganso e descabelar o palhaço. Nada menos triste do que as alterações nos verbos namorar, casar e separar, que, respectivamente, viraram ficar, juntar e comemorar. Depois da substituição do piupiu por bilau e da cassiterita por xumbrega, estou definitivamente pronto para meter o carimbo de aceito em todas as modificações propostas ou já feitas ao vernáculo.
Estrogonoficamente falando, no novo recorte brasileiro ou aceitamos ou ficamos com os glúteos nadegais de fora. Em resumo, é pegar ou largar. Mesmo sem o devido preparo, preferi assumir a necessidade de remodelação fonética. Do rocambolesco e estrambólico português do primário e do ginasial, que, ao contrário de hoje, não nos permitia brincar com a gramática, fantasticamente evoluímos tecnológica e linguísticamente. Tanto que, quando menino, diante de um silêncio temporário, minha mãe perguntava: “O gato comeu sua língua?” Em nossos dias, na era digital, indago dos netos: “Engessaram vossos dedos?”
Apesar de continuar sabendo que nada sei, tenho absoluta certeza de que falo apenas uma língua. E não é a minha. Por isso, não consigo me acostumar aos modismos xau, kbça, kd, oiee, brou, muito menos à era do googlar, shippar, tuitar ou internetar. Deboísmo (ficar de boa) à parte, me escorneio na luxúria só de lembrar que o Brasil está sob nova direção. Em recente reunião com amigos da velha guarda do jornalismo, aprendi, por exemplo, que, embora não seja um neologismo, o termo mito define algo que não existe, uma lenda de origem incerta. Além de Jair Messias, os mais populares são Curupira, Lobisomem, Boitatá, Mula sem Cabeça e Saci-Pererê. E por que Jair também não é um neologismo? Porque o advérbio já significa saia agora daqui, enquanto o verbo ir, muito mais do que Imposto de Renda, quer dizer vá e não volte. Se estivesse em situação como a dele, faria logo um contato de terceiro grau com Sujiro Kifuja, o advogado de 11 entre dez enrolados da elite brasileira.