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Cadáver insepulto

Jair e Milei em busca de mais um minuto e meio de aplausos (pagos, claro)

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

Em recente publicação no X de Elon Musk, o ex-presidente do fim do mundo questionou a saúde mental de seu sucessor no comando do Brasil. Segundo ele, o filho do sistema “é um indivíduo dominado pelo ódio, pela mentira e pela traição”. Como não há mais bobo na política nacional, certamente somente seus seguidores acreditaram na lorota produzida pelo capetão de bravata, agora indiciado pela Polícia Federal por suspeita de lavagem de dinheiro, associação criminosa e peculato. Com o dedo e a alma podre, ele se pinta com cores berrantes, mas, como sempre fez, usa a imagem dos adversários. Traduzindo para o português mais escorreito, o lunático, mentiroso e traíra do país é exatamente quem tenta jogar no colo alheio adjetivos que cabem como luvas no próprio dorso.

Cadáver insepulto e disposto a se aproximar de qualquer um que se manifeste em favor do atraso e do conservadorismo, o candidato das baionetas só pensa naquilo. Ele dorme e acorda imaginando fórmulas mágicas capazes de destronar um presidente eleito que não lhe dá a menor trela. O atual vê o anterior como um boneco de neve, daqueles que não há necessidade alguma de empurrões, gritos ou ameaças. Ele se esfarela sozinho. Ao contrário do fulano, que fala e todo o mundo ouve, o ciclano diz que faz e acontece, que prende e arrebenta, mas nem as corujas querem mais ouvi-lo. Imagina os pares.

Um dos poucos que ainda aceita seu convite para uma dança de rosto colado é o também maluquete Javier Milei. A exemplo do fantoche tupiniquim, Milei tem urticárias quando ouve falar de pautas progressistas apresentadas por líderes com tendências de esquerda. Por isso, eles têm ódio de Luiz Inácio. Na verdade, mordem o travesseiro e morrem de inveja do sucesso externo de Lula. Tido como ultraliberal e anarcocapitalista, o coleguinha argentino é o próprio baby à procura de colo. Perdido como cego em tiroteio, faz o mesmo jogo do amiguinho brasileiro: sentar-se no trono e esperar as ordens dos chefes supremos do conservadorismo de direita.

No caso específico, de extrema-direita. Contrários às convicções dos seguidores de ambos, acho que se juntar o Morcegão com a barata albina do Prata não se consegue meio presidente de uma nação séria. Inquestionavelmente, o que eles fazem muito bem é bater palma para maluco dançar. Sempre que podem, um convida o outro para um convescote destinado a falar mal dos adversários. Não à toa, Milei circulará neste fim de semana pelo Brasil, mais especificamente por Balneário Camboriú, berço amado de 11 entre dez amantes da política de faz de conta. São os que dão a vida e algo mais por cinco minutos de holofotes.

Entretanto, o máximo que alcançam é um minuto e meio de aplausos de uma claque eletrônica e muito bem remunerada. Acabou o cascalho e a bateria do computador, cessam as palmas. Sem discurso, projetos e ideias, o que seria de um e de outro não fossem as redes sociais, palco principal para o besteirol produzido por suas insolências. Mesmo sem aviso prévio à diplomacia brasileira, Javier Milei, cujo governo é um retumbante fracasso, esteve por aqui e poucos notaram. Quase ninguém. Deram um caguei para ele e seus anfitriões.

Faz parte do jogo dos medíocres montar espetáculos circenses para desviar o foco de seus fracassos políticos e pessoais. Ignorá-lo é a melhor resposta. Como Milei segue o caminho traçado pelo parça Jair, que é o de se queimar na própria fogueira da vaidade, dar vez e voz a ele é ajudá-lo a reacender seu facho tosquiado. Lembrando a velha fábula do casamento desfeito ainda na lua de mel por conta da ausência de testosterona do noivo, para um pinto morto nada melhor do que uma pomba de luto. Ao mito de farofa com frango, resta um alento: se cuida, Latorraca, antes que Alexandre de Moraes o encontre.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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