Vimos a história acontecendo diante de nossos olhos. Hoje, quero te contar um pouco do que vi em Brasília ao testemunhar a posse de Lula. Foi emocionante assistir a Esplanada dos Ministérios tomada por famílias, crianças, jovens, idosos – milhares de pessoas de todo o país comemorando o começo dessa nova era na história do Brasil.
O clima era de alegria, festa e renovação. Brilhando forte o dia todo, o sol iluminou as pessoas que cantavam e dançavam, celebrando a perspectiva de um futuro melhor. Aliviados com o fim do período de trevas que aguentamos nos últimos quatro anos, a sensação de quem estava ali era de que, agora, finalmente, “a vida vai melhorar”, como cantou Martinho da Vila em um dos shows da noite.
O povo brasileiro foi protagonista. Representado por um grupo de 8 pessoas, subiu a rampa do Palácio do Planalto ao lado do novo presidente. Em um de muitos atos simbólicos, Lula recebeu a faixa presidencial de Aline Sousa, uma mulher negra que trabalha como catadora de materiais recicláveis no Distrito Federal. Contrastando com seu antecessor, Lula se emocionou ao falar das desigualdades que assolam o país e prometeu fazer do combate à fome, mais uma vez, uma prioridade em seu terceiro governo.
Em meio a abraços calorosos e discursos emocionados, um grito de guerra me chamou a atenção. “Sem anistia. Sem anistia”, entoavam os presentes na mesma melodia que as torcidas cantam “É campeão” em estádios de futebol. Com essas palavras, passaram uma mensagem clara: Bolsonaro pode ter fugido para os Estados Unidos, mas o povo brasileiro não vai esquecer nem perdoar as desgraças que ele promoveu.
Quase 700 mil mortes na pandemia, fome, desemprego, desmatamento, devastação. Tudo isso está na conta de Bolsonaro e sua trupe. Encerrada a festa de ontem, Lula tem pela frente o desafio de reconstruir um país quebrado pela irresponsabilidade e pela desumanidade que reinaram no governo passado.
Todo mundo sabe que Bolsonaro cometeu crimes. Muitas dessas evidências estão escancaradas, mas muita coisa segue em sigilo e precisa vir à tona. Jair já foi embora, agora tá na hora de abrir sua caixa-preta. Tá na hora de descobrir quais crimes Bolsonaro e seu séquito cometeram. Tá na hora de documentar, um por um, os danos que eles praticaram para que os responsáveis possam ser punidos. E é essa a primeira missão da Pública em 2023. Não vai ser fácil, mas juntos vamos conseguir cumpri-la.
O governo Lula já assinalou que pretende fazer sua parte: pediu que a Controladoria Geral da União (CGU) revise as informações de interesse público que Bolsonaro pôs sob “sigilos indevidos”. Em um dos discursos de ontem, Lula prometeu que “a Lei de Acesso à Informação (LAI) voltará a ser cumprida.” Mesmo que isso aconteça numa velocidade recorde, liberar os documentos por si só não significa “abrir a caixa preta”: é preciso que jornalistas leiam, analisem, classifiquem e cruzem os dados revelados para descobrir o que Bolsonaro queria tanto esconder.
Da nossa parte, o compromisso é fazer um mutirão de pedidos de informação e dedicar uma equipe para investigar a fundo esses dados e documentos. Poucas redações no país têm a experiência necessária para fazer jornalismo investigativo baseado em documentos – a Pública faz isso há quase 12 anos.