A formalização da filiação do presidente Jair Messias ao PL do mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto encerra definitivamente um ciclo, o da mentira bozolítica. Considerando a ligação umbilical do PL ao PP de Arthur Lira (AL) e de Ciro Nogueira (PI), chefões do Centrão e atolados até a alma no Petrolão, o discurso da moralidade, integridade, probidade e honestidade acima de tudo desceu rapidamente pelo ralo fétido da politicagem barata. Pior é que acabou mostrando a todo o País o vale tudo em nome da perpetuação no poder. A união do roto e do esfarrapado colocou na mesma sintonia quem nunca fez e quem nada faz pela Pátria Amada. A verdade é que esse povo apenas se utiliza do Brasil para, alcançando e se mantendo no comando, se dar bem ad eternum.
Além disso, comprova que, independentemente da linhagem e com raríssimas exceções, políticos são farinha do mesmo saco. Antiga e desabonadora do ponto de vista da ética e do comprometimento com a coisa pública, a tese não incomoda mais nem as exceções. Do latim Homines sunt ejusdem farinae (são homens da mesma farinha), o termo é uma expressão idiomática popular usada para expressar a ideia e que um conjunto de pessoas pertence a um mesmo grupo. Quando alguns indivíduos falsos se arrogam em críticos severos de outros de quem podem ser parceiros, sócios ou amigos, surge essa frase para dar conta de que não há diferença entre eles. Aportuguesando a frase, é o mesmo que insinuar que os bons andam com os bons, enquanto os maus preferem os maus.
O caos é generalizado na pasmaceira eleitoral brasileira. Resumindo, na política todos são farinha do mesmo saco, embora existam farináceos mais refinados do que outros. O problema é encontrá-los. Não é fácil, mas devemos tentar. Como? Dividindo votos com pessoas capazes de modificar o ditado farinha pouco meu pirão primeiro para farinha pouca a gente divide o pirão. Longe de ser a dos nossos sonhos, a Pátria Amada vem sendo diariamente ultrajada por obra e graça da ineficiência eleitoral de muitos de nós, brasileiros, que permitimos que enganadores de todos os partidos se reelejam sistematicamente. O Brasil só vai melhorar quando tivermos consciência de que, se todos os políticos são farinha do mesmo saco, o melhor a fazer… é cortar o saco de todos.
Filiado ao PL e de “caso” com o PP, Bolsonaro ganhará tempo de TV e mais verbas partidárias. Entretanto, certamente perderá o restinho do respeito que conquistou em 2018, quando, ainda candidato e contra adversários que ele acusava de roubalheira, prometeu jamais se envolver ou se aliar com a “velha política do toma lá dá cá”, tampouco com defensores de “acordos espúrios”. Lembro bem que, pouco antes de vencer a disputa, afirmou que “se não existir outra forma de governar sem o toma lá dá cá, eu tô fora”. E agora? Como impedir que surjam novas sátiras envolvendo o governo e o grupo formado por congressistas de siglas sem posicionamento ideológico e com fome insaciável por cargos?
Improvável. Talvez impossível, na medida em que há três anos o general Augusto Heleno, um dos mais ilustres ministros do governo do capitão, aproveitou a convenção em que o PSL oficializou o então deputado federal Jair Bolsonaro como candidato ao Planalto e criou a primeira dessas paródias: “Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”. Na imitação, filmada e postada nas redes sociais, o ministro usou Centrão em lugar de ladrão, conforme consta da letra original da música “Reunião de Bacanas”, composta por Ary do Cavaco e Bebeto Di São João e imortalizada pelo falecido sambista Bezerra da Silva.
No pior momento da popularidade do presidente, o malabarismo usado pelo general para justificar a aproximação com os novos “amigos” contrasta com a alegria do chefe, que diz estar em casa no partido dos carguinhos. Interessante como o ódio de 2018 se transformou em paixão para 2022. No discurso de filiação ao PL, Bolsonaro disse que tirou o País da esquerda. Pode ser. E onde o colocou? O mundo inteiro tem a resposta. Resta saber o que dirá, como reagirá e, sobretudo, como o admirável gado novo votará em outubro do ano que vem. Até lá, tudo como dantes nos quartéis partidários do oba oba sem limites e sem futuro.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978