Reportagem veiculada pelo Intercept Brasil no sábado (24) informa que o Ministério Público do Rio de Janeiro decidiu não renovar grampos em pessoas ligadas às investigações sobre a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, após surgirem referências ao presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a matéria, comparsas de Nóbrega teriam comentado, em ligações telefônicas, que procurariam o “homem da casa de vidro” – referência ao Palácio do Alvorada – para cobrar ajuda financeira e apoio à família do miliciano morto em operação da Polícia da Bahia, em fevereiro de 2020.
Adriano da Nóbrega estava foragido e era alvo do MP-RJ, sob acusação de chefiar o Escritório do Crime, uma milícia que praticava assassinato por encomenda. Adriano era amigo de Bolsonaro, foi homenageado pelo filho Flávio e teve esposa e mãe empregadas no gabinete do hoje senador.
De acordo com os grampos, a primeira ligação supostamente feita a Bolsonaro apareceu na noite em que Adriado foi morto. “Ronaldo Cesar, o Grande, identificado pela investigação como um dos elos entre os negócios legais e ilegais do miliciano, diz a uma mulher não identificada (MNI, no jargão policial) que ligaria para o ‘cara da casa de vidro’.”
Quatro dias após a morte de Adriano, Grande então falou com um homem não identificado, que aparece na transcrição da polícia como “PRESIDENTE”, e relata os problemas com a família do miliciano devido à divisão de bens.
A polícia não inseriu detalhes na descrição, mas resumiu que o homem que pode ser Jair Bolsonaro se colocou à disposição de Grande no que fosse necessário.
No mesmo dia, o pecuarista Leandro Abreu Guimarães e sua mulher, Ana Gabriela Nunes – que ajudaram Adriano a se esconder da polícia por um período – foram grampeados conversando sobre ligar para “Jair”. Leandro é “um vaqueiro premiado, que ganha a vida organizando e participando de rodeios. Foi num desses eventos que o ex-capitão comprou 22 cavalos de raça mesmo estando foragido da justiça.” Há suspeitas de que Adriano lavava dinheiro do crime investindo na compra de animais nobres.
Segundo o Intercept apurou, o MP-RJ, “o conjunto das circunstâncias permite concluir que os nomes são referências ao presidente Jair Bolsonaro.”
O MP-RJ teria aceitado interromper os grampos porque não pode investigar um presidente da República. A função cabe à Procuradoria-Geral da República. Mas a PGR sob Augusto Aras não quis responder se recebeu as informações do MP fluminense.