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Janja entra na briga ao lado de Lula e nocauteia Jair Bolsonaro

“Pintou um clima”. A frase do presidente Jair Bolsonaro, (PL) relatada em entrevista ao canal do YouTube Paparazzo Rubro-Negro, sexta-feira passada, causou espanto e indignação na maior parcela da sociedade brasileira. Afinal, o chefe do Executivo, em campanha pela reeleição, se referia a meninas venezuelanas de 14 e 15 anos, que vivem como refugiadas na cidade de São Sebastião, na periferia de Brasília.

O fato demorou um ano para vir à tona. E agora que ganhou da pior maneira as redes sociais e a boca do povo, deixou o presidente em mau lençóis. Em tom de canastrão sedutor, o tiozinho Bolsonaro disse que estava dando um passeio de moto, quando avistou as jovens, “muito arrumadas e maquiadas para uma manhã de sábado”, segundo ele, e foi aí que ‘pintou um clima”. Bolsonaro, conforme suas próprias palavras, pediu para entrar na casa das adolescentes, para depois insinuar que ali havia um ponto de prostituição de menores. As meninas, no entanto, participavam de uma ação social.

O vídeo com essa história caiu como uma bomba nas redes sociais e viralizou em poucas horas. O comando da campanha entrou em polvorosa para abafar o escândalo, classificado por internautas como um insuspeito caso de pedofilia. Afinal, domingo era o aguardado dia do primeiro debate do segundo turno das eleições, transmitido em rede de televisão aberta. A saída de emergência encontrada foi abrir uma live no início da madrugada do próprio domingo, para que Bolsonaro desdissesse aquilo que disse em alto e bom som, gravado e perpetuado pela internet para quem quiser ver e ouvir.

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preferiu não explorar o assunto no debate. Até porque, o Supremo Tribunal Federal proibiu minutos antes do início do programa que Bolsonaro fosse acusado de pedofilia. A tropa de choque bolsonarista respirou aliviada, assunto encerrado, campanha que segue, com artilharia pesada e irresponsável de sempre contra o petista. Mas… Lula não dorme no ponto. E na noite desta terça, 18, em entrevista ao Flow Podcast, que rendeu uma audiência de mais de 6 milhões de ouvintes, um recorde de público, Lula disse que Bolsonaro tem “comportamento de pedófilo” – citando, com todas as letras, o caso das meninas venezuelanas.

Foi uma verdadeira pancada no alívio que durou bem pouco tempo, apenas dois dias, na hostes bolsonaristas. Horas antes, ainda na mesma terça-feira, a socióloga Janja Silva, mulher do ex-presidente Lula, divulgou trecho de outra declaração de Jair Bolsonaro, feita no canal evangélico “Podcast Collab”, realizado em 12 de setembro último. Na conversa, o presidente associa diretamente o visual das meninas à prática de prostituição.

– “Todas muito bem arrumadas, tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia, quer que eu fale? Para fazer programa. Vocês acham que elas queriam fazer isso? Qual era a fonte de sobrevivência delas? Essa!”, afirmou, em uma mistura de tom destemperado e irônico.

Janja Silva, uma das pessoas mais influentes na campanha de Lula, postou em seu Twitter: “Inacreditável que o “Presidente” já tenha exposto essas meninas venezuelanas, anteriormente em outra entrevista. A minha indignação só aumenta. O “cidadão de bem” deveria ter denunciado se houvesse qualquer indício de exploração de menores. É essa proteção das famílias que ele prega?”. Para quem duvida, é só acessar o microblog daquela que já dizem ser a próxima primeira-dama.

Surpreendida mais uma vez, a equipe de marqueteiros, comandada por Carluxo, correu para apagar o incêndio e tentar evitar novas repercussões negativas na reta final da campanha. Ainda pela manhã, Bolsonaro gravou um vídeo em que pede desculpas às imigrantes caso suas palavras tenham sido “mal entendidas”.

Ao seu lado, a triste figura da primeira-dama, cumprindo mais uma vez o constrangedor papel de esposa perfeita, fiel apoiadora dos deslizes do marido em todos os momentos. Ele inclusive, determinou que Michelle e a senadora eleita pelo DF, Damares Alves, fizessem a família venezuelana gravar um vídeo aceitando as desculpas do presidente que não sabe se expressar direito, como anda se justificando no horário eleitoral. O plano não teve sucesso. E foi mais um tiro no pé do capitão.

É fato que todos os dias, Jair Bolsonaro comete alguma atrocidade verbal. Ou várias. Afinal, suas palavras são reflexos da lama podre da qual sua essência é constituída. O que causa espanto é o tamanho da legião de apoiadores e simpatizantes que aplaude e endeusa uma figura sinistra que parece ter emergido das profundezas mais sombrias da existência humana.

Naturalizar sua verborragia indigesta, sua mente perversa, suas ordens inescrupulosas. Pessoas que se sentem autorizadas a cometerem agressões físicas, agressões racistas, apontarem armas, se apropriarem de símbolos e bandeiras, invadir, desmatar, ameaçar, expulsar, intimidar, matar. Faltam apenas 11 dias para irmos as urnas e conseguir, com a gloria de Deus Pai e todos os orixás, expurgar esse ser repugnante de nosso convívio. E que leve junto, sua tropa de insanos. O nocaute foi dado por Janja. Resta saber quem recolherá o corpo moral e eleitoralmente destroçado. Só não vale, avisam os socorristas, chutar cachorro morto.

*Jornalista e escritora, com atuação em Brasília

**Jornalista, Chefe de Redação de Notibras

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