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Políticos de estimação

Janones vira osso para matilha que sobrevive com rachadinha

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Mathuzalém Júnior - Foto Tomaz Silva/ABr

Ainda chegará o dia em que não precisarei mais escrever sobre política com viés ideológico. Torço para que ele não esteja longe. Tenho consciência de que o noticiário está ficando chato, requentado e monotemático. Entretanto, os que reclamam hão de convir que essa brincadeira de cão e gato não foi iniciada por mim. O pontapé inicial partiu dos terrivelmente honestos. Mesmo meio abestalhado, confesso que, no mundo esnobe, radical e pobre de espírito em que vivemos, continuo me surpreendendo com a boçalidade e o mau-caratismo de alguns brasileiros bem-posicionados. É o caso dos deputados federais eleitos pelo partido comandado por Valdemar Costa Neto, um dos maiores exemplos vivos de ‘honestidade’ e de ‘seriedade política’.

Até hoje ostentando a negativa adjetivação de patriotas, os tais deputados querem a todo custo a cassação do colega André Janones (Avante-MG) por suposta prática de rachadinha. Não há dúvida que, se verdadeira, a prática é criminosa, desavergonhada e nociva ao Congresso, ao país e à sociedade. A surpresa é justamente por conta do grupo que se diz indignado com a atuação de Janones, hoje aliado do atual presidente. Aliás, essa deve ser a maior razão para as queixas. Vassalos do mito, os parlamentares que, em nome da moralidade, recorreram à Mesa da Câmara estão absolutamente acostumados com a recorrência do método de exigir parte dos salários de assessores.

O Brasil inteiro sabe por quem o esquema de rachadinha foi inaugurado na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Portanto, se alguém tem de ser apedrejado em praça pública, que se busquem primeiros os precursores da prática. Eles continuam com mandato. Com a indignação fajuta, a turma do PL quer dizer apenas que a pimenta tem de arder somente no fiofó alheio. Na representação encaminhada a Arthur Lira (PP-AL), aliados do ex-presidente tratam o caso do deputado lulista como definido e dizem não haver provas contra o senador do clã que governou recentemente o Brasil. Em outras palavras, os desavisados comandados de Valdemar só aceitam o título de urubus, jamais o de carniça.

Com a rapidez de um raio, eles esqueceram do próprio rabo. Não se lembram sequer que Waldir Ferraz (Jacaré), um dos amigos mais próximos do ex-presidente jubilado, disse em janeiro do ano passado que uma ex-mulher do ex-mandatário comandou esquema de rachadinha nos gabinetes do capitão e de dois de seus quatro filhos. Obviamente que a acusação contra Janones nada mais é do que uma “cabeça premiada” para o bolsonarismo e um alívio para a “machadada” nos desconjuntados lombos do Jair e de seus santos filhos.

Como a malandragem e ganância sobrevivem da boa fé, esse tipo de político – Janones incluído – permanece estável graças à ingenuidade dos eleitores. A disputa entre direita e esquerda pela primazia da honestidade reafirma a tese firmada por pensadores isentos, para os quais a política é limpa. Sujas são as pessoas que a utilizam em benefício próprio. Há décadas ouço que essa política suja nos deixa sem esperanças para o futuro. Então, por que não fazemos nada para mudar o quadro? Será que estamos todos contentes com as migalhas que sobram da chafurdação dos políticos pelos chiqueiros da República?

É triste afirmar, mas não sairemos da lama enquanto o povo brasileiro insistir na tese de “político de estimação”. Mais uma vez abestalhado, confesso que lamento pelo povo sério. Acho que, mais errado do que o vício da sacanagem política, é o da sacanagem do voto cidadão. Sem medo de errar, afirmo que, para reciclar a política, é preciso reciclar o pensamento cidadão. Não adianta vender seu voto e continuar vivendo com medo de bandidos, sem emprego, sem escola, na fila da saúde e com fome. Também não adianta dividir seu suado salário com quem não merece. E não importa que seja A, B ou C. Pelo sim, pelo não, o STF autorizou inquérito da PGR para apurar a rachadinha do falastrão Janones. Quanto a Valdemar e companhia, a máxima da política é que sempre é preciso deixar um osso para a oposição roer.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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