Breno Pires
Com um arco e flecha recebido como presente, Rodrigo Janot encerrou a apresentação do balanço de sua gestão na Procuradoria-Geral da República, em cerimônia interna nesta sexta-feira, 15. O souvenir indígena foi enviado pela tribo Xokó, de Sergipe, numa alusão nada sutil à frase dita recentemente pelo procurador: “Enquanto houver bambu, lá vai flecha”, sobre o oferecimento de novas denúncias a envolvidos na Lava Jato.
Janot foi aplaudido por cerca de 400 procuradores e servidores. Compareceram à cerimônia os ex-procuradores-gerais Cláudio Fonteles, Aristides Junqueira e Sepúlveda Pertence. Chamou a atenção a ausência de Raquel Dodge, sua sucessora na PGR, que assume o posto na segunda-feira, 18.
O relatório da gestão Janot apresentado pela Procuradoria-Geral da República destacou que “pela primeira vez na história do Brasil, um presidente da República foi denunciado por crime supostamente cometido no curso do mandato”.
O texto, no entanto, reconhece a polêmica em torno das delações que basearam as investigações contra o presidente Michel Temer. “Por ter previsto imunidade processual, muito se questionou sobre a qualidade das informações trazidas pelos executivos da J&F em acordo de colaboração premiada.”
Dois dos principais delatores do grupo, o acionista Joesley Batista e o ex-executivo Ricardo Saud, após divulgação de um áudio que indicou omissão de informações importantes em seus depoimentos, tiveram o acordo de colaboração rescindido por Janot e foram denunciados na quinta-feira, 14, junto com Temer por obstrução de Justiça, sob acusação de tentar comprar o compromisso de Lúcio Funaro de não firmar acordo de delação premiada. Funaro foi o operador das propinas movimentadas pelo PMDB na Câmara.
O grupo de trabalho criado para auxiliar o Janot na Lava Jato contou com dez integrantes efetivos e mais cinco colaboradores. A PGR assinala que o número de investigados já chega a 450, entre pessoas físicas e jurídicas, divididos em 178 inquéritos. Foram firmados 159 acordos de colaboração premiada. Janot afirmou, no evento, que a Lava Jato respondeu por 18,7% dos processos movimentados pela PGR no STF.
A PGR também destacou a redução em 70% do número de processos judiciais no gabinete, que era de 2.330 na posse de Janot, em 2013, e no fim de agosto estava em 595.