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Procurador sob suspeição

Janot errou, chocou e parou o Brasil. Quem investiga isso?

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José Seabra

Há muito tempo o País se escandaliza com sucessivas denúncias contra políticos. As investigações apontam fundamentos em algumas delas; em outras não. Investigar ocupante de função pública é um imperativo, não uma faculdade. O que vem acontecendo é bom para o Brasil. Vive-se hoje, porém, a tensão provocada por uma delação que chocou mais que as outras.

Trata-se do que andou falando Joesley Batista e seu grupo da J&F – a holding que cuida da JBS, Friboi, enlatados, apapelados, pisantes e outras coisas. Antes chamados de alcaguetes, fecharam a semana passada com a alcunha de menino travesso, adepto de traquinagens.

A delação chocou porque trouxe uma gravação envolvendo o presidente da República em conversas nada republicanas. Teria feito Joesley mais uma de suas traquinagens e manipulado a gravação?

Chocou porque, antes da divulgação da conversa, a Globo, com o brilho de uma Vênus Platinada, anunciou que Michel Temer teria autorizado o alcaguete a comprar o silêncio de Eduardo Cunha. Essa versão paralisou o país por 25 horas. Mas, depois de apurações imparciais, o que se viu era que o áudio desmentia o que fora amplamente difundido por longas 25 horas.

Chocou porque a Nação soube que o Procurador-Geral da República concedeu imunidade total para os alcaguetes em troca das informações prestadas. Janot, açodado, não levou em consideração as provas gritantes praticadas por Joesley e seu grupo. Para piorar, era sabido – por auto-incriminação -, que o dono da J&F liderava uma quadrilha tendo como integrantes representantes do Poder Público. Não cabia, portanto, nenhum benefício.

Chocou porque, ao contrário do que diz a legislação, o presidente da República só pode ser investigado com autorização judicial, e isso não aconteceu.

Estranhamente, todas as ilegalidades descritas não impediram Janot de apresentar denúncia contra Temer. Por sorte, a Câmara, respeitando a Constituição, negou a abertura de processo. Se o presidente deve, que pague ao fim do mandato, concluíram os deputados.

Chocou ainda mais porque muitas vozes respeitáveis apontaram os erros cometidos pelo procurador-geral. Mesmo assim, nenhuma providência foi adotada por quem tinha a obrigação de fazê-lo.

Desde a delação de Joesley, Brasília vive terremotos políticos. Aqui e ali os tremores são mais intensos.

Porém, apesar de tantos choques, agora vem o choque maior: graças à atuação dos verdadeiros investigadores – palmas para a Polícia Federal -, um áudio contendo conversa entre Joesley e Saud revela a existência de um esquema comandado pelo ainda dono da J&F, para roubar os cofres públicos.

Revela também a participação ativa do ex-braço direito de Janot no esquema, chegando inclusive a anunciar que Janot, ao se aposentar, terá uma cadeira no escritório de Miller.

Revela ainda conversas pérfidas e fétidas acerca de sexo, tentando trazer membros do STF para o palco desse teatro de horrores.

Por fim, há a confissão de que tais conversas constam nos autos, mas que, a quem de direito, esquecer de ver, ouvir e analisar.

É revelador o caráter – ou a falta dele -, voltado para o crime.

Agora que todas essas traquinagens levaram Joesley e Saud para a prisão, é imperioso perguntar: quem e quando vai apurar essa conduta esdrúxula de Janot?

Há perguntas que exigem respostas convincentes.

1. Por que Janot cometeu a ilegalidade de iniciar uma investigação contra o presidente da República sem autorização judicial?

2. Por que Janot concedeu imunidade total aos alcaguetes, mesmo sabendo que chefiavam a quadrilha, o que, portanto, impede o benefício da liberdade?

3. Por que Janot manteve o benefício da imunidade após os Joesley e Saud terem cometido crimes contra a economia nacional?

4. Janot realmente acertou com seu ex-braço direito de, após se aposentar, trabalharem no mesmo escritório de advocacia?

5. Por que Janot não denunciou no início os fatos agora revelados?

6. Por que cargas d’água, Janot  foi ao encontro do advogado do alcaguete, em um bar de Brasília, horas após revelada a conversa descoberta pela Polícia Federal?

Muitas outras perguntas reclamam respostas. É incontestável, porém, que Janot está sob suspeita. Ele precisa ser investigado diante de todas as trapalhadas feitas neste episódio e, quem sabe, em outros ainda não revelados.

O Ministério Público comandado por Rodrigo Janot não é o Olimpo. Não é um Poder. É uma instituição que precisa de serenidade e transparência. E se Janot, que se acreditava Zeus, errou, o que dizer dos tentáculos dos procuradores que se espalham por esse Brasil afora, inclusive os de Brasília?

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