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Jesus, mais de 2 mil anos depois. E se Ele voltasse hoje, como seria recebido?

Estamos em plena época de Natal, uma data que celebramos com nossas famílias e amigos, mas que há muitos anos se desconectou do seu sentido original. Pensando nisso, uma pergunta (e um projeto) inquietante, surgiu: e se Jesus retornasse à Terra nos dias de hoje? Como ele seria recebido?

Essa promessa vem sendo deflagrada de forma incisiva por líderes religiosos, que usam desse argumento para ameaçar seus seguidores sobre possíveis punições, mas esquecem a premissa de que Jesus nunca fez tal julgamento a quem quer que seja.

Foi nesse cenário hipotético que o designer Douglas Téo começou a imaginar a vinda de Jesus a São Paulo. Nesse cenário, sua volta seria diferente: ele viria sem nada, sem fazer milagres, apenas com suas palavras. Douglas decidiu imaginar Jesus dessa forma, por ter vários questionamentos internos sobre a apropriação que muitos religiosos têm de Jesus, mas que não se conectam com suas próprias atitudes. Se Jesus tentasse entrar em igrejas cristãs atuais, ele seria bem vindo?

Com uma excepcional sensibilidade, ele pesquisou durante quase um ano a figura simbólica do religioso ao longo dos séculos, as imagens sacras da época, tanto pinturas quanto esculturas, para entender a linguagem gestual característica.

Mas talvez o que mais lhe impactou foi sua imersão no mundo real. Ele deixou o cabelo e barba crescerem, emagreceu 10 quilos e, algumas vezes, se vestiu de morador de rua pra tentar entender como é ser considerado um excluído da sociedade. Como resultado, ele percebeu que as pessoas nem se aproximam de mendigos por eles serem a figura da derrota (algo de que as pessoas fogem completamente, não querendo se imaginar em tal situação). Em outra ocasião, Douglas tentou entrar em igrejas católicas e evangélicas ainda vestido de mendigo, e em todas ele foi rapidamente expulso, com ameaças de espancamento ou de chamar a polícia.

Isso lhe deu ainda mais força para continuar a reflexão e surgiu então o Hostilizado, um projeto com financiamento coletivo para transformar os ensaios em um livro e em uma exposição. “A mensagem central é um exercício reflexivo de coerência, de lutar contra a hipocrisia que se constrói de maneira camuflada, sem a gente perceber, mas está lá, separando as pessoas, estabelecendo privilégios para alguns e, consequentemente, desenhando o inferno de outros. O projeto é uma tentativa de fortalecimento da compaixão.”

Nos três ensaios, ele contou com uma equipe de profissionais voluntários, que acreditaram em seu projeto e dispuseram seu tempo para fazê-lo da melhor forma. Um detalhe importante é que o fotógrafo André Nunez, junto com a equipe, se afastava de Douglas enquanto ele saía pelas ruas de São Paulo caracterizado, para que as interações e gestos acontecessem de forma orgânica.

Os ensaios foram tão profundos para o designer, que ele só conseguiu se distanciar o suficiente para escolher e editar as fotos quase três anos depois da produção das imagens.

Você pode ajudar a financiar o projeto por aqui. Porém, mais do que uma arrecadação, o projeto propõe uma reflexão para cada um de nós, sobre nossas atitudes, e sobre como algumas religiões têm nos distanciado de valores tão simples, como por exemplo, o amor ao próximo.

Do Terra

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