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Jet ski do clã estava ali, foi ao Tororó e não voltou

Cadê o jet ski que estava ali, saiu para o mar e escafedeu-se? Eram dois e só retornou um. Tudo isso em Angra dos Reis, onde a casa de veraneio do clã foi “visitada” na segunda-feira (29) pela turma do bem da Polícia Federal. Toda a família estava lá, mas, de repente, como num passe de mágica, zero zero, zero um, zero dois e zero três desapareceram do recesso do lar em um barco e duas motos aquáticas, uma azul e outra amarela. Reapareceram muitas horas depois sem o equipamento amarelo e sem um dos zeros à direita, mais especificamente o zero um. Curioso! Será que foram esconder provas na casa de amigos da redondeza? Não acredito que eles acreditem que o comando e os agentes da PF acreditarão na esparrela do encontro com o amigo para um almoço às 6h30.

Não acredito, mas o que fazer? Disseram que o jet ski amarelo era de um amigo dos Beatles, aqueles do Yellow Submarine, e a ele foi entregue. Ninguém sabe. Não importa se a moto fugiu ou se sumiu. O importante é que não voltou. Como a maioria dos “patriotas”, eles (o clã) são tão bonzinhos e, por essa razão, não tentariam enganar a polícia e a Justiça. Pelo sim, pelo não, é o que a PF quer saber. E, não tenham dúvida, vai saber. O fato é que a família reunida supostamente saiu para pescar. E por que não levou anzol, tarrafa e lamparina? E por que regressou sem pescado algum? Está parecendo mais uma daquelas estórias estapafúrdias de pescador. Tudo indica que é. Pode ser que o mar não estivesse para peixes graúdos, mas nem um baiacuzinho, uma sardinha em conserva ou um olho-de-cão.

Oh! dúvida albatroz. E se pescaram um peixe-palhaço? Se foi robalo, terão de devolver. Por falar em dúvida, duvido que a PF já não esteja rastreando aquele pedaço de mar, em busca, quem sabe, de um corrupto, crustáceo que tem esse apelido porque são muitos e são difíceis de capturar. Não sei se me entendem, mas, no fim e ao cabo, deve sobrar um enorme tubarão-charuto para o coitado do bagrinho, o tal que deve ter ficado com a enguia na mão e o jet ski amarelo no bolso traseiro da calça. Estamos falando de mar, mas como dizia Brigadeiro, falecido compositor de sambas, tem bobo para tudo. Se querem saber, nem bestas como eu engolem essa história mal contada de lambari ou de tubarão-duende.

Mas, partindo do grupo do qual falamos, até as joias da rainha são capazes de sumir na boca fechada de caranguejos. Voltando ao imaginário amigo escondedor de provas, na gíria policial esse tipo também pode ser considerado um esparro, isto é, o malandro que deliberadamente esbarra na vítima, de modo a auxiliar a ação do punguista. Não acredito que ainda existam figuras como essa. No entanto, no Brasil de nossos dias nada me surpreende. Ainda que no mar, esconder provas de pessoas na mira de todo o mundo não é tão fácil. Era nos primórdios e nos castelos medievais, nos quais não se chegava, se é que me entendem, nem fornicando.

Hoje, se chega facilmente operando drones não pilotados. Se alguém ajudou, será descoberto. Portanto, azar o dele. Ou deles. Como gosto de ir e vir, lembro que, no meu tempo de jovem, a gíria de rua, principalmente na Bahia de Dorival Caymmi, Antônio Carlos Magalhães e Caetano Veloso, definia os esparros como bobos, otários. No dicionário oficial, o termo – um substantivo masculino – significa carão, esporro, censura severa e enérgica. Seja lá o que for, o que interessa é onde esconderam e o que foi fazer o jet ski amarelo que saiu do cercadinho e sumiu no Tororó ou no Mucuripe. Talvez ele reapareça vermelho ou roxo de raiva. O piloto saiu para almoçar, mas não comeu. Nada bate. Repito que não importa se a moto fugiu ou se sumiu. O importante é que não voltou.

Interessante de tudo isso é que, apesar dos perigos dos oceanos, um dos clichês dos amantes da pescaria é afirmar que pescador vive menos estressado. Não foi o que o Brasil e o mundo viram na tormenta de segunda-feira em Angra dos Reis. Diriam os timoneiros dos barcos que pescaria é como o amor: quando você menos espera é fígado. Não vi nada de esculacho, mas lembro ao clã que pescar não é só pegar peixes. Também pode ser entregar um jet ski a uma sereia ou transformá-lo em conchinha do mar. O olho do furacão do maremoto ainda está por vir. Por enquanto, não adianta chorar no molinete derramado. Do mar, do rio ou do chuveiro, a água da lei começou a brotar e já alcançou o nariz dos zeros zeros. Aproveito a deixa molhada para informar que sempre admirei Caymmi, mas não sei de onde ele tirou essa história de que “É doce morrer no mar”. No caso em questão, o desfecho deverá ser bastante salgado.

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