Notibras dá início esta semana a uma série de entrevistas com os deputados distritais eleitos e reeleitos no último pleito. O primeiro, sorteado entre os 24 parlamentares, é Joe Valle. O polêmico aliado do Palácio do Buriti não gosta de meias palavras. “Estarei ao lado do governador, apoiando seus projetos, mas sem venda nos olhos…” Assim o deputado do PDT definiu sua posição na legislatura iniciada em 1º de janeiro.
Seus mais de 20 mil votos surpreenderam a nova bancada. Apesar disso, o governador Rodrigo Rollemberg e os senadores Antônio Reguffe e Cristovam Buarque decidiram apoiar a pedetista Celina Leão para presidir a Câmara Legislativa pelos próximos dois anos, tendo Liliane Roriz, do PRTB, como sua vice. Mas isso é da natureza da política. E dos políticos.
A leitura do quadro é de simples entendimento e o novo governador vai conduzir o Governo do Distrito Federal tendo como aliados os grupos de Joaquim Roriz e Luiz Estêvão. Joe Valle deixou o PSB, partido de Rollemberg, e chegou ao PDT pelas mãos de Marina Silva, que pretendia levar o deputado, em seguida, para seu futuro partido. Mas, sem sua Rede, Marina foi parar nos braços do PSB. Uma inversão de vias. Contudo, nada impede que oportunamente cheguem juntos para construir uma estrada comum.
O deputado afirma que não colocou seu nome para a nova composição da Mesa Diretora da Câmara Legislativa. Mas que teoricamente teria preferência sobre as damas eleitas pelos méritos de antiguidade e votação. E, descartado o comando do Legislativo brasiliense, sugeriu a Rodrigo Rollemberg apenas que a Secretaria de Agricultura fosse mantida na pretendida reforma administrativa, uma vez que a Pasta está entre as mais antigas e tradicionais do Distrito Federal. Nada, portanto, que faça dele um mamulengo nas mãos do Buriti.
Joe Valle ficou na primeira suplência na primeira tentativa de garantir uma cadeira entre os deputados distritais. Isso foi há oito anos, quando somou cerca de 6 mil e 500 votos. As estatísticas mostram que nas duas eleições seguintes (2010 e 2014) o número de eleitores cresceu e migrou da zona rural para redutos onde residem os formadores de opinião. Uma conquista digna de aplausos.
Para quem consolidou uma lavra de alface com sucesso, Valle, que é produtor agrícola, sabe muito bem adubar seus empreendimentos, entre eles seu eleitorado. Muitos duvidaram e davam como certa a sua derrota, inclusive seus próprios parceiros políticos.
O deputado entende que a composição da Câmara que emergiu das urnas em outubro do ano passado não é definitiva. Joe Valle considera a possibilidade de que pelo menos meia dúzia de parlamentares deve enfrentar problemas jurídicos. E poderão, consequentemente, perder seus mandatos. Assim, pelo raciocínio de Joe, deduz-se que a força tarefa formada por Rollemberg, Roriz e Estêvão, poderá ter mais trabalho no futuro.
Os nove deputados rebeldes e de oposição a Rollemberg, que retiraram seus nomes do processo de eleição da presidência da Câmara, garantem que também sabem revirar a terra e podem encontrar um patrocinador para a sua lavoura. A maioria que forma a base do governo é gorda, quinze distritais, mas a fidelidade no universo político é magra. Para quem afirmou todo o tempo que não faria acordos nem negociaria cargos, Rollemberg inicia uma temporada já com muitos acordos e negociações.
Joe Valle afirma ignorar as condições da parte negociada. Para ele, a decisão de estar fechado politicamente em uma redoma e governar exclusivamente com os seus pares, que são poucos, pode inviabilizar o sonho de Rollemberg de colocar a casa em ordem. E é sonho mesmo, segundo especialistas em governança. Essa receita foi experimentada por Agnelo Queiroz e pelo PT. E deu no que deu.
Joe Valle também avalia como uma grande razão do insucesso de Agnelo a sua desastrada comunicação de imprensa e de propaganda. Torce para que os atuais responsáveis do setor não sejam os mesmos nomes e empresas, da mesma ciranda de sempre, que só funcionam com os experientes Roriz e Arruda, que pouco dependem dessa importante área porque ambos têm conceitos formados pela opinião pública. Não é o caso de Rodrigo Rollemberg nem era o caso de Agnelo, que deixou o campo minado para trás.
Valle julga que uma estratégia equivocada da comunicação do GDF poderá respingar na bancada de apoio ao Buriti. Agora é cedo para avaliar, mas já é tarde para Rollemberg informar claramente à população o que pretende fazer nos próximos dias. De convocar a população para uma empreitada dura de enfrentar, antes que seja tarde, quando novas bombas podem explodir no colo de seus secretários e colaboradores.
Rodrigo Rollemberg não é mais candidato, agora ele é o governador e não há como retroceder problemas, que são crescentes. Por enquanto, o novo governador segue com uma boa base entre os deputados distritais para tentar o possível e o impossível. Pelo perfil da bancada apoiadora isso já está custando caro. Muito caro. Pode ser que descubra isso a tempo. Mas pode ser que seja tarde…
Quanto a Joe, em que pese o passado arrastado aos trancos e barrancos com Rollemberg, fica a certeza de que o deputado, enquanto soldado de uma aliança política, será capaz de morrer pelo governador. Desde, claro, que sem venda nos olhos. Porque quem morre com os olhos vedados é vítima de execução. E só a traidores é permitido executar.
Kleber Ferriche – colaborou José Seabra