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Almeidinha e o truco

Jogar é para ganhar, nem que seja no palitinho

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução

Já contei sobre o meu amigo Almeidinha, que tem um temperamento intempestivo, mas um grande coração. Se bem que há gente que duvide que ele possua o famoso órgão que bombeia o sangue pelo corpo. Mas deixemos um pouco de lado tal implicância com o gajo, pois hoje é dia de relembrar uma das situações mais esdrúxulas que vivi durante meus tempos de estudante de medicina veterinária lá na Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Apesar de conviver com muitos aficionados por carteado, nunca me interessei por esse passatempo. Na verdade, nunca levei muito a sério, apesar de na infância acompanhar a minha avó nas intermináveis batalhas de paciência. Mas não aquelas tão comuns em jogos de computador. Minha avó só jogava uma em que se formavam oito colunas, quatro de um lado, quatro do outro, cinco cartas em cada. Tanto é que, quando alguém me fala em paciência, sempre me vem à mente justamente esse tipo, apesar que ninguém parece conhecê-lo.

Todavia, deixemos a paciência de lado, mesmo porque o tipo de carteado que vou falar é outro. Pois bem, lá estava eu degustando o meu jantar no bandejão, quando o Almeidinha, todo eufórico, veio me contar a última, como se eu fosse a pessoa mais interessada nesse assunto, o tal truco.

– Dudu, sabe aqueles caras do alojamento C?

– Que caras?

– Os que ganharam o último campeonato de truco.

– Almeidinha, nem sei do que você tá falando.

– Dudu, em qual mundo você vive?

O meu amigo me olhou com cara de espanto, como se eu tivesse que saber quem eram esses tais caras. Aliás, nem sabia que existia um campeonato de truco, ainda mais na Rural. Não dava a mínima para aquilo. No entanto, o Almeidinha continuou com aquela ladainha até que, não entendo isso até hoje, conseguiu me convencer a formar uma dupla com ele para enfrentar os tais campeões do alojamento C. Pois é, acredite ou não, essa tal batalha seria naquela mesma noite.

Rapidamente o Almeidinha me jogou um monte de regras, como se eu fosse um computador recebendo vários dados, que deveriam ser prontamente processados. Isso depois que eu havia acabado de encher o bucho no bandejão. Seja como for, aceitei o desafio apenas para agradar o meu amigo. Não que eu levasse aquilo a sério, muito menos imaginava que isso tivesse tamanha relevância para o Almeidinha. Isto é, até que, depois de tomarmos aquele vareio dos caras do alojamento C, o meu amigo, espumando pela boca mais que touro diante do balançar de um pano vermelho, começou a esbravejar.

– Dudu, você fez a gente perder!

– Deixa isso pra lá, Almeidinha! Isso é apenas um jogo.

– Dudu, isso não é um jogo! Isso é truco!!!

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