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Jogo do abafa do assédio sexual de ministro pode respingar no Planalto

Lula não tem motivos para fazer uma reforma ministerial, salvo um ou dois casos pontuais, mas exige-se dele uma reforma moral na equipe. É que o trecho do Eixo Monumental compreendido entre a Praça dos 3 Poderes e a Rodoviária do Plano Piloto, tão cheio de simbolismos, pode ser palco logo adiante de revelações que vão respingar diretamente no Palácio do Planalto.

Coração político do Brasil, a Esplanada tem vivenciado muitos escândalos, tão perturbadores quanto os recentes casos de assédio sexual envolvendo figuras de poder. A investigação em andamento está se desdobrando, revelando não apenas a gravidade das acusações de assédio, mas também a tentativa de ao menos duas autoridades em abafar o caso, lançando uma sombra sobre o compromisso do Estado com a transparência e a justiça.

O envolvimento da Polícia Federal trouxe um ar de seriedade que, inicialmente, parecia faltar. Ao receber denúncias de comportamento inadequado dentro das paredes dos ministérios, as investigações começam a revelar algo mais profundo e insidioso: a cumplicidade de outros altos cargos, que supostamente se mobilizaram para proteger os acusados em vez de buscar a verdade. Isso levanta questões difíceis sobre a cultura do silêncio e da impunidade que, infelizmente, ainda permeia certos setores do serviço público.

As tentativas de abafar o caso, seja por meio de pressão política, destruição de provas ou intimidação das vítimas, refletem uma realidade perturbadora: o poder, quando mal utilizado, pode se tornar uma arma para silenciar os mais vulneráveis. E mais grave ainda é o fato de que essas práticas parecem ser aceitas por alguns como parte do “jogo político”.

O desenrolar da demissão de Sílvio Almeida será um teste para as instituições brasileiras. A Polícia Federal, reconhecida por sua autonomia, está diante do desafio de não apenas investigar o assédio em si, mas também identificar quem tentou obstruir o curso da justiça. As implicações disso são imensas. Se for provado que autoridades tentaram interferir nas investigações, isso pode desencadear uma nova onda de processos e reformulações dentro do governo, algo que pode impactar o futuro político de muitos envolvidos.

Enquanto isso, o público assiste com uma mistura de descrença e indignação. Casos envolvendo diretamente dois ministros de Estado são inéditos. Porém, resgatam lembranças amargas de que, apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito para garantir um ambiente de trabalho seguro e respeitoso, especialmente nos corredores do poder. A sociedade clama por justiça e transparência, e cabe às autoridades envolvidas mostrar que ninguém está acima da lei, independentemente do cargo que ocupam. E abafar denúncias, por mais improváveis que sejam, não se justifica. A partir daí, Lula precisa dar uma lição de moral na equipe. Ou fazer, contra a própria vontade, a reforma ministerial que não deseja.

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