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Verdades e mentiras

Jogo do empurra do vídeo vai dar o que falar

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Autor/Imagem:
André Shalders/BBC Brasil

A reunião interministerial do dia 22 de abril está no centro das acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo o que foi publicado ao longo desta terça-feira (12), pessoas que assistiram ao vídeo da reunião disseram que Bolsonaro aparece, no encontro, afirmando que precisaria trocar o comando da Polícia Federal no Rio de Janeiro para evitar que familiares ou amigos seus fossem prejudicados. Bolsonaro nega esta versão.

Assistiram ao vídeo o ex-ministro Moro, acompanhado de seu advogado; policiais federais envolvidos com a investigação; pessoas da equipe do procurador-geral da República, Augusto Aras; e um juiz que trabalha com o relator do caso no STF, Celso de Mello. O advogado-geral da União, José Levi, também esteve na PF. Todos tiveram de deixar os celulares do lado de fora da sala.

Segundo a imprensa, pessoas que assistiram à gravação disseram que o conteúdo é “devastador” para Bolsonaro. De acordo com o site de notícias G1, Bolsonaro teria dito durante a reunião que sua família sofre perseguição no Rio de Janeiro, e que por isso seria necessário trocar o chefe da Superintendência da PF no Estado.

Ele não cita diretamente a Polícia Federal: usa o termo “segurança no Rio”. E diz que, se não pudesse fazer esta troca, mudaria o diretor-geral da PF e o próprio ministro da Justiça e Segurança Pública.

A descrição coincide com o que disse Moro em seu depoimento à PF. “O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e quanto ao MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública), se não pudesse trocar o superintendente do Rio de Janeiro, trocaria o Diretor Geral e o próprio ministro da Justiça”, narrou Moro no depoimento. O encontro do dia 22 de abril foi o último do qual ele participou – Moro pediu demissão dois dias depois, em 24 de abril.

Investigadores que assistiram ao vídeo da reunião afirmaram ao jornal O Globo que Bolsonaro aparece no vídeo dizendo que já havia tentado trocar “o segurança” no Rio, e que agora finalmente conseguiria substituí-lo.

Para esses investigadores imagens da reunião, Moro aparece com o semblante carregado e o vídeo deixa claro que Bolsonaro queria trocar os ocupantes de postos-chave na PF para obter informações a respeito de procedimentos de investigação envolvendo familiares e outras pessoas próximas.

Segundo Moro, o vídeo “confirmou” o que ele disse em seu depoimento.

“O acesso ao vídeo da reunião ministerial do dia 22/4 confirma o conteúdo do meu depoimento em relação à interferência na Polícia Federal, motivo pelo qual deixei o governo. Defendo, respeitosamente, a divulgação do vídeo, preferencialmente na íntegra, para que os fatos sejam brevemente confirmados”, disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo.

Na tarde desta terça-feira, Bolsonaro reagiu a estes relatos sobre a reunião de 22 de abril. O presidente disse que o termos “Polícia Federal”, “investigação” e “superintendência” não são citados durante o encontro.

“Continuam desinformando, a mídia. Esse informante, esse vazador, está prestando um desserviço. Não existe no vídeo a palavra ‘Polícia Federal’ e nem ‘superintendência'”, disse Bolsonaro a jornalistas na rampa do Palácio do Planalto.

“A preocupação minha sempre foi depois da facada, de forma bastante direcionada para a segurança minha e da minha família”, disse ele, a respeito de sua suposta fala. “A Polícia Federal nunca investigou ninguém da minha família”, disse. Bolsonaro afirmou ainda que a reunião teve “muita coisa” e que a gravação deveria ter sido destruída.

“Em reunião ministerial, sai muita coisa. Agora, não é para ser divulgada. A fita era para ser destruída – após aproveitar imagens para divulgação, ser destruída. Não sei por que não foi”, disse.

Ataques
Além da superintendência da PF, outros assuntos também foram tratados na reunião do dia 22 de abril. A reunião envolveu críticas a ministros do STF, a governadores e prefeitos, e até uma discussão sobre os resultados dos exames de Bolsonaro para o novo coronavírus.

Segundo a colunista de O Globo Bela Megale, fontes que participaram da reunião relataram que Bolsonaro estava de “péssimo humor” no encontro. O presidente teria usado o encontro para dar uma “bronca” em todos os seus ministros, dizendo que todos estavam passíveis de demissão.

Em vários momentos, Bolsonaro usou palavrões. Ainda segundo a colunista, o encontro registrou uma discussão acalorada entre os ministros Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).

No encontro, Bolsonaro também teria dito que não iria divulgar a “porcaria” do teste para o novo coronavírus, feito por ele. Segundo o Estado de S. Paulo, Bolsonaro teria dito que o exame poderia levar a um processo de impeachment.

O site “O Antagonista” também cita o termo “porcaria de exame” para ccovid-19. Segundo o site, Bolsonaro teria ressaltado que é ele quem “comanda as Forças Armadas” e teria dito que as usaria se preciso, “para evitar um golpe”.

Ainda durante o encontro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, teria dito que os ministros do Supremo Tribunal Federal “tinham que ir para a cadeia”, segundo O Estado de S. Paulo.

Já a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, teria sido registrada durante o evento defendendo a prisão de governadores e prefeitos. Durante o encontro, Bolsonaro teria se referido ao governador de São Paulo, João Doria, como “bosta”. Pessoas do governo do Rio de Janeiro seriam “estrume”, no dizer do presidente, segundo O Estado de S. Paulo.

O vídeo se tornará público?
O relator do caso no Supremo, ministro Celso de Mello, determinou que a Polícia Federal faça a transcrição de todo o conteúdo da reunião e encaminhe para o seu gabinete. O ministro está trabalhando em sua casa em São Paulo (SP), vivendo em isolamento por pertencer ao grupo de risco para o novo coronavírus.

Só depois de receber a transcrição é que Celso de Mello decidirá sobre o sigilo da gravação. Anteriormente, o ministro já tinha dito que decidiria “brevíssimamente” sobre o assunto.

“Determino à Polícia Federal (…), que proceda, por intermédio de Perito Criminal Federal, à degravação integral do HD externo (…) que lhe foi entregue na data de hoje, autuando-se em apartado, em regime de sigilo (que será pontual e temporário), o que dele se extrair, até que sobrevenha decisão minha (sobre o sigilo)”, escreveu o ministro.

Ao longo da tarde, vários políticos de oposição ao governo apresentaram pedidos ao STF para que torne público o conteúdo das gravações. Petições deste tipo foram apresentadas pelo deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

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