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Churrasco na chácara

Jogo que fez do Fogão campeão teve de tudo (até pagode de suspensão)

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Família grande é aquela coisa, amores e ódios nas alturas, festa para todos os gostos, imbróglios a cada esquina. E tem hora que junta tudo isso, como aconteceu no churrasco para assistir à final da Libertadores entre o Atlético Mineiro e o Botafogo. Pela televisão, é óbvio, mesmo porque a maior parte da galera é dura, enquanto a outra precisa vender o almoço para garantir a janta. E a viagem custaria uma nota.

Júnior, primo de Aurora, conseguiu descolar um sítio de um amigo do trabalho. Local requintado, ainda mais para aquele povo tão acostumado a passar perrengue. O tal colega do Júnior, aliás, nem era o dono, mas conhecido do caseiro, que disse que ninguém sabia do empréstimo. Tal favor possuía apenas duas condicionantes: que a bagunça fosse arrumada após a comemoração e, principalmente, isso não caísse nos ouvidos do proprietário do local.

Para arrecadar dinheiro para o churrasco, Júnior estipulou o valor de cinquenta reais por cabeça. Tia Brotinho, tinhosa como ela só, subiu nas tamancas.

— Júnior, por acaso você quer ficar rico à custa da família?

— Mas, tia, vai ter carne e bebida da boa.

— E por acaso eu sou de encher a cara?

— Tá bom, tia. A senhora pode pagar quarenta.

— Quarenta?

— É, tia.

— Hum… Tô de dieta!

— Trinta e cinco tá bom pra senhora?

— Trinta me soa melhor.

Para apaziguar a situação, Júnior tratou logo de dar o desconto para a velha, cujos bofes andavam virados desde que pegou o marido com Sandrinha, afamada por sair com homens casados.

— Tia, tô alugando um ônibus pra levar a galera.

— Hum…

— A senhora tem assento na janela bem na frente.

— Hum…

— Vinte por cabeça.

— Hum…

— Quinze pra senhora.

— Hum…

— Doze?

— Hum…

— Tô brincando, tia. Pra senhora é oito.

— Tem troco pra cem?

A patuscada foi aquele sucesso. Rolou de tudo ao som de Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, dois notórios botafoguenses. Se houve confusão? Algumas, mas nada além das costumeiras intrigas.

Quanto à tia Brotinho, parece que perdeu por completo as estribeiras. Além de cair com gula na comida, tomou todas e mais algumas. Desacordada, precisou ser carregada pelos parentes. E, se ainda não bastasse, vomitou durante o trajeto de volta. A sorte é que a velha, estrategicamente posicionada, conseguiu abrir a janela a tempo.

Mas não pense que a barafunda acabou por aí. É que tia Brotinho, inconformada com o sacolejo do ônibus, ainda provocou pendenga com o condutor.

— Ô, motorista! O pagode ficou lá no sítio.

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*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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