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Jogos Escolares Brasileiros registram participação recorde

Mais de 6.714 inscritos nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs) 2023, entre estudantes-atletas, integrantes de comissões técnicas e dirigentes, estão em Brasília para disputar medalhas em competições entre 28 de outubro e 8 de novembro. Criado em 1969, o campeonato de abrangência nacional é considerado a principal competição escolar do país.

A edição de 2023, de acordo com o Ministério do Esporte, é a maior da história dos JEBs. Ao todo, o evento conta com 18 modalidades esportivas (atletismo, atletismo adaptado, badminton, basquete, ciclismo, futsal, ginástica artística, ginástica rítmica, handebol, judô, karatê, natação, taekwondo, tênis de mesa, voleibol, vôlei de praia, wrestling [arte marcial] e xadrez) e mais duas modalidades em demonstração: curling (esporte que lança pedras de granito o mais próximo possível de um alvo) e esgrima.

Desde sábado (28), as competições estão sendo realizadas em 19 espaços esportivos diferentes da capital federal. O assessor técnico da Confederação Brasileira de Desporto Escolar (CBDE), Victor Beltrão, explicou a escolha da cidade para sediar os jogos. “Brasília tem muitos lugares bons para conhecer, muitas quadras bacanas. Estamos presentes em vários clubes, com ambientes bem diferenciados. Em Brasília, temos a oportunidade de expandir as competições para mais locais e, assim, conhecer mais a cidade.”

Atletas, técnicos e famílias
Os atletas são estudantes de 12 a 14 anos, matriculados em instituições de ensino públicas e privadas das 27 unidades da federação. Segundo o presidente da Confederação Brasileira de Desporto Escolar (CBDE), essa representatividade é resultado da política implementada pela entidade. “Valorizamos a garantia da participação de todos os estados do Brasil.”

Estar em Brasília vale a pena para a goleira de futebol de salão Luana Nascimento de Jesus, de 13 anos, que partiu de Rondônia, como integrante de uma equipe de dez jogadoras. “É uma sensação muito boa de entrar nestes jogos brasileiros. Sei que tem muita gente que nunca teve a oportunidade de participar disso”.

O técnico de basquete de uma escola privada do Distrito Federal, Ricardo Oliveira, que hoje cuida do planejamento estratégico de uma equipe de jovens que competem no JEBs, há quase quatro décadas, esteve do outro lado da quadra. Ricardo foi jogador das primeiras edições dos JEBs, no Distrito Federal, em meados dos anos 1980.

Hoje, mais experiente, Ricardo afirma que sempre apostou no potencial catalisador do esporte. “O JEBs é a maior competição de todas, é o início de tudo, para essa categoria de 12 a 14 anos, e é democrática demais, porque envolve todos os estados do Brasil. A competição é uma grande experiência, que além de esportiva é legal para a vida dos atletas. Muitos deles sequer saíram de seu estado ou até da sua cidade natal. Aqui, eles têm a oportunidade de viajar de avião, ficar em um hotel, trocar experiências. Então, pra mim, é uma alegria muito grande ver onde começa tudo”.

E pelo terceiro ano consecutivo, Ricardo tem um motivo a mais para torcer na arquibancada. O filho dele, Mateus Mesquita de Oliveira, de 14 anos, é um dos atletas que quicam a bola laranja no garrafão, com mira fixa na cesta da tabela. A exemplo do pai, Mateus quer seguir profissionalmente no basquete. Mas, por enquanto, curte mesmo é a oportunidade como atleta-estudante. “Está bem legal porque está todo mundo junto, reunido. A competitividade também é bem forte, encontramos muita gente com potencial aqui. Por isso, está sendo uma experiência muito boa”.

Esporte não é apenas sobre vencer ou perder. Quem disse isso foi o pernambucano Thiago Alves Araújo, de 14 anos. Competidor do atletismo, nas provas de corrida de 2 mil metros e 800 metros, no fim de semana, Thiago não vai levar medalhas para casa em de Brejão (PE), porque perdeu em uma delas e desistiu da outra prova, depois de lesionar a coxa. Mesmo assim, o jovem está aproveitando a experiência para torcer pelos conterrâneos. “É bom. Já fiz amizades com gente de minha cidade e outras pessoas de outros estados também”.

Os JEBs 2023 também marcam a estreia do professor do Thiago, em competições nacionais de grande porte, Leonardo de Queiroz. Para ele, o esporte poderá abrir portas a mudanças para quem está em Brejão (PE).

“O esporte motiva, justamente, essas crianças que não têm tantas oportunidades no dia a dia. Estar aqui, é uma forma de incentivo a outras crianças com situações não tão boas, tanto na parte econômica, como na sócio-familiar. Isso pode servir de motor para que, cada vez mais, o esporte do nosso município venha a crescer.”

Quem é, digamos, veterano em JEBs, é o professor Gilvan Meireles, que pela quinta vez coordena equipes de esportes coletivos em edições dos Jogos Escolares Brasileiros, em estados distintos. Apesar de estranhar as altas temperaturas na cidade, Gilvan afirma que o que importa é a série de ganhos obtidos com a prática esportiva “A convivência com culturas locais, pessoas diferentes, fazer novas amizades, isso tem somado muito na vida deles. Os JEBs são uma alavanca, uma porta muito boa para que eles possam dar sequência ao esporte, mesmo tendo apenas 13 ou 14 anos ao escolher.”

A coordenadora de modalidades Esportivas dos jogos do Acre, Juliana Maia, comenta sobre a confiança depositada pelos pais e responsáveis ao enviarem os filhos para competir na capital federal. “É uma responsabilidade muito grande. Viemos de ônibus do Acre em dois dias e meio. Foi cansativo e também preocupante, porque são os filhos dos outros. Mas, a gente faz tudo para que termine tudo bem e a gente volte em segurança para casa.”

Juliana Maia fala sobre a responsabilidade de viajar de ônibus com tantos jovens- Antônio Cruz/Agência Brasil
O jogador de vôlei de praia, Vinícius Santiago é um dos jovens sob a tutela de Juliana. Apesar de não ter conhecido muito da cidade de Brasília, porque está envolvido com as competições, o estudante de 14 anos está gostando da experiência que o esporte na areia lhe proporcionou. “O vôlei me atraiu. Eu saí da frente de um celular, saí de casa, jogo com meus amigos. Acho o vôlei um esporte muito divertido, muito legal.”

Se alguns alunos viajam acompanhados somente dos treinadores, outros atletas, devido à pouca idade, contam com a companhia dos familiares que embarcam juntos na aventura para dar suporte, sobretudo, emocional aos competidores. O técnico de vôlei de areia, Claudio Maia, vindo do Acre, é testemunha de situações assim e valoriza o envolvimento da família com o esporte. “É importante trazer o esporte dos menores para bem próximo à família. Muitos familiares se deslocam dos outros estados para acompanhar os filhos, porque, nessa faixa etária, de 12-14 anos, papai, mamãe, tio estão sempre muito próximos dos atletas. E ter a família próxima e envolvida com isso é bem bacana”.

O proprietário de um colégio privado de Camboriú, Santa Catarina, Augusto Vittorio Servelin diz que colhe os frutos de escolher o esporte como viés educacional. “Hoje, temos centenas de alunos que passaram pela nossa escola e foram campeões, que estão em diversos clubes do Brasil. Então, para a escola é uma gratificação muito grande. Sabemos que estamos contribuindo com algo para a vida deles, com disciplina, espírito de coletividade.”

Futuro
O ministro do Esporte, André Fufuca, que, na última sexta-feira (27), participou da cerimônia de abertura dos JEBs destacou que a realização das competições é uma das prioridades da pasta. “O auxílio a esses atletas é fundamental para que eles possam competir em níveis internacionais. Se depender do Ministério do Esporte, esses jovens irão competir não apenas nos JEBs, mas nos mundiais, nos pan-americanos, nas olimpíadas, pois tenho certeza que o primeiro passo nós estamos dando aqui”.

As competições deste campeonato serão classificatórias para os Jogos Sul-Americanos que ocorrerão em dezembro, no Chile. Em 2024, Recife (PE) receberá a próxima edição dos JEBs.

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