O adolescente de 14 anos que matou dois alunos e feriu a tiros outras quatro crianças no Colégio Goyases em 20 de outubro, em Goiânia, está isolado em uma sala de umas das unidades de internação para jovens infratores da cidade, cujo endereço não foi divulgado por razões de segurança.
A decisão judicial previa que ele fosse enviado para o Centro de Internação Provisória do 7º Batalhão da Polícia Militar, em Goiânia, onde estão cerca de 90 menores, mas a advogada da família, Rosângela Magalhães, alegou que o menino corria risco de morte por causa de ameaças que chegaram à família.
O garoto está detido desde o dia 20 de outubro, quando disparou 12 tiros contra seus amigos de sala de aula. No centro de internação, tem direito de ver apenas o pai e mãe durante uma hora por semana. Regularmente, recebe visita de psicólogos. Nos próximos dias, um laudo pericial trará o quadro psicológico e psiquiátrico do garoto. A peça é vista como documento fundamental para o desdobramento do caso.
Rosângela Magalhães, que esteve cinco vezes com o adolescente, diz que se trata de um jovem calado e introvertido por natureza. “O que deu para notar, no primeiro dia de contato, é que ele estava em pânico, muito abalado. Hoje a palavra que resume isso tudo é a dor. Ele é muito apegado ao irmão, de 8 anos, que também estudava no mesmo colégio.”
Segundo a advogada do adolescente, o garoto tinha bom comportamento familiar, tirava boas notas e já estava aprovado em todas as disciplinas neste ano. “Não estou negando a gravidade dos fatos, mas esse menino sempre teve uma vida ajustada. É um fato isolado na vida dele”, defende.
O garoto é filho de policiais militares. A mãe atua na área administrativa, em cursos de formação de policiais da Academia da PM. O pai, o major Divino Aparecido Malaquias, trabalha na Corregedoria da polícia e já foi comandante do Batalhão da PM que faz a segurança do complexo prisional de Aparecida de Goiânia (GO).
Na manhã do dia em que sacou uma arma da mochila e saiu atirando, major Divino havia passado no Colégio Goyases poucos minutos antes para pegar o filho mais novo, de 8 anos, porque sua aula acabava um pouco mais cedo. “O adolescente ia para casa a pé. A família morava perto do colégio. Hoje estão em casas de parentes e vão se mudar”, afirma Rosângela.
A pena mais dura prevista para o caso é de três anos de internação. Uma primeira audiência com o garoto e seus pais já foi realizada pelo Juizado da Infância e Juventude. O veredicto deve sair até o fim deste mês.
Na peça de defesa do garoto, Rosângela diz que vai incluir o controverso tema do bullying. “Uma coisa que não se discute é que existiu o bullying. Não estou dizendo que o bullying justifique tamanha tragédia, mas que ele existiu, não há dúvida. Todos os estudantes sabiam, mas a escola diz que desconhecia”, afirma.
A advogada cita ainda que o caso ocorreu justamente no Dia Mundial do Combate ao Bullying, 20 de outubro. No Brasil, essa data é lembrada em 7 de abril, em referência ao aniversário da tragédia de Realengo, quando Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio, invadiu uma sala de aula e atirou contra as crianças, matando 11 delas, em 2011. O assassino, de 24 anos, se suicidou em seguida.
“Não tenha dúvida de que o bullying oprimiu esse menino. Agora, a densidade disso nós só vamos saber com os laudos e instrução processual. Não dá para ser leviano agora e afirmar o que efetivamente ocorreu. Todos nós estamos buscando uma explicação”, diz a advogada.
Rosângela Magalhães ficou conhecida pela atuação como advogada de outra história de comoção nacional, o “caso Pedrinho”, revelado em 2002, no qual a ex-cabeleireira Vilma Martins raptou o garoto dos braços da mãe, em 1986, o que só seria revelado 16 anos depois.
Mãe de filhos adolescente, Rosângela reconhece a gravidade dos fatos de seu novo cliente. “Ao final, a gente vai tentar compreender o que aconteceu, mas aceitar e efetivamente entender plenamente, isso ninguém vai. Isso é inexplicável, era inimaginável, tanto para a escola como para os familiares.”
Retomada das aulas – Aos poucos, pais, alunos e professores do Colégio Goyases tentam retornar à rotina das aulas, um mês depois da tragédia ocorrida no número 270 da Rua Planalto, no bairro Riviera, região de classe média de Goiânia. Na manhã do dia 20 de outubro, um adolescente de 14 anos entrou na sala do 8º ano do Colégio Goyases, no Conjunto Riviera, bairro de classe média de Goiânia, abriu a mochila, sacou uma pistola calibre 40 e disparou contra seus amigos.
No fim de tarde da última terça-feira, dia 14, um grupo de pais se aglomerava no portão da escola para pegar os filhos do ensino fundamental 1 que tinham saído em uma excursão até o “Rancho Colorado” , um passeio educativo e recreativo que a escola realiza todos os anos, a cerca de 20 quilômetros dali. Dentro do colégio, uma faixa pendurada lembrava os pais sobre as datas de rematrícula para 2018, destacando que o preço da mensalidade não terá reajuste e que será o mesmo valor deste ano. As crianças chegaram em dois ônibus.
“Gosto muito desse colégio. O que aconteceu aqui aconteceria em qualquer lugar, não só aqui. Então é tocar o barco, ter fé em Deus em seguir em frente”, diz Severino Leite da Silva, pai do Davi, de 8 anos.
A opinião é compartilhada por Manoel Lima Cordeiro, pai da Manoela e Otávio, também de 8 anos. “As crianças estão voltando tranquilamente, serenos. O que aconteceu foi surreal, mas a gente vê que as crianças não estão sentindo nenhum abalo. Vida normal.”
A movimentação era acompanhada de perto pelo proprietário da escola, Luciano Rizzo. “Nosso espírito hoje é o de engrandecer ainda mais nossa dedicação à educação, com os pais respondendo ao chamamento da escola na formação do aluno”, diz.
Vítimas – No dia em que o adolescente entrou na escola atirando, ele acertou os colegas João Pedro Calembo e João Vitor Gomes, ambos de 13 anos. Os dois não resistiram e morreram no local.
Outros três alunos, Yago Marques e Marcela Rocha Macedo, de 13 anos, e Lara Fleury Borges, 14 anos, também foram atingidos pelos disparos, mas escaparam e já estão em casa. Isadora de Morais é a quarta sobrevivente, mas sua batalha está só começando. Isadora ficou paraplégica.
Passado um mês do caso, a rotina do colégio também tem contado com a presença de Simone Maulaz Elteto, a coordenadora de ensino que convenceu o adolescente a parar de atirar contra seus amigos.
A diretoria da escola afirmou ainda que os alunos Yago Marques, Lara Fleury Borges e Marcela Rocha Macedo também retornaram às atividades escolares. As aulas foram retomadas no dia 30 de outubro, dez dias após o ataque.