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Juarez cai na tentação e acorda com ressaca moral

Juarez começou a beber ainda adolescente para se enturmar. Coisas da juventude que, nos anos 70 do século passado, não costumavam vir com o alerta do Ministério da Saúde do tipo “cuidado onde você está pisando”. Se isso foi determinante, não se sabe, a não ser que o sujeito, quando percebeu, já estava totalmente emaranhado na teia do alcoolismo.

A despeito de tamanha dependência, Juarez foi alçado a um cargo público por conta da influência do pai, que era aliado de certo político de renome. E foi justamente esse apadrinhamento que manteve o rapaz no emprego, pois nunca se deu ao trabalho de aprender o serviço, mesmo nos períodos de sobriedade. Pendurava o paletó na cadeira, pedia um café para a copeira. Sorvia com sofreguidão o elixir dos sonolentos e, em seguida, dispensava a mulher, mas com a condição da garrafa térmica ficar.

Apesar das tempestades que vinham e iam, Juarez passava meses se esquivando da bebida. É verdade que a danada, vez ou outra, aparecia de supetão em algum convite para aquela esticada após o expediente ou, não raro, por causa de alguma comemoração na casa de amigos. Seja como for, o homem resistia até onde dava pé e, não aguentando mais, se afogava na cerveja, no vinho ou na cachaça.

Pois foi numa dessas ocasiões que Juarez perdeu de vez as estribeiras. Pisou na jaca, chutou o pau da barraca, vomitou os bofes até dizer chega. Só descobriu que retornou para casa no dia seguinte e, mesmo assim, porque reconheceu a própria cama. Não se lembrava de como teria chegado ali, até que o telefone tocou insistentemente, o que lhe aumentou o desconforto da enxaqueca.

Para pôr fim àquele martírio, o homem atendeu. Era o Leopoldo, seu colega de trabalho. Não demorou mais do que um minuto de conversa para que o Juarez descobrisse que fora justamente seu amigo que o carregou quase nos ombros até o lar, doce lar.

— Obrigado, Leopoldo. Eu te devo mais essa.

— Esquece, Juarez. Amigos são pra essas coisas.

— Puxa, valeu demais.

— Aposto que você deve estar com aquela ressaca.

— Tô, sim. Mas o pior mesmo é a ressaca moral.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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