Julia Lindner e Erich Decat
Em meio aos movimentos de alguns peemedebistas para tentar destituir Renan Calheiros (PMDB-AL) da liderança do partido no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) elaborou um manifesto de apoio ao alagoano. O documento já foi assinado por pelo menos nove dos 22 integrantes da bancada na Casa, inclusive do líder do governo e presidente da legenda, senador Romero Jucá (RR).
A assinatura de Jucá gerou desconforto na ala da bancada que é contra a permanência de Renan no cargo por conta de suas críticas às medidas econômicas defendidas pelo governo. Eles fizeram uma reunião com o líder do governo na noite desta quarta-feira, 3, para questioná-lo sobre a sua postura. Segundo senadores presentes no encontro, Jucá foi repreendido por se manifestar na lista como presidente da sigla.
Além do líder do governo, participaram da conversa outros oito senadores: Simone Tebet (MS), Marta Suplicy (SP), Rose de Freitas (ES), Airton Sandoval (SP), Waldemir Moka (MS), Dário Berger (SC), Garibaldi Alves (RN) e Elmano Férrer (PI). Desses, apenas Jucá e Dário assinaram o documento a favor de Renan. Para destituir Renan seriam necessários 12 votos. Na reunião, o grupo discutiu uma eventual saída de Renan, mas não conseguiu apresentar nenhum candidato para substituí-lo.
Jucá teria justificado que, durante reunião com Renan, pela manhã, foi abordado por Braga para assinar o documento de apoio para provar que não estava por trás da articulação contra o líder da bancada. Na semana passada, o líder do governo publicou uma nota dizendo que “qualquer decisão sobre a liderança do partido no Senado cabe à bancada dos senadores”.
Para Braga, o presidente do partido se posicionou para passar um recado a Renan. “Não é o presidente em exercício do PMDB que tem que falar sobre liderança da bancada. O presidente em exercício do PMDB está dando uma nota estapafúrdia”, reclamou na época.
Questionado sobre o número de assinaturas coletadas para a lista, Braga desconversou: “Renan é o líder do PMDB e ponto”. Segundo integrantes da bancada, a iniciativa do senador de distribuir uma lista de apoio ocorreu um dia após opositores a Renan dentro da bancada iniciarem um movimento para coletar apoio para mudança. Um dos articuladores seria o senador Raimundo Lira (PMDB-PB), que negou qualquer envolvimento. “É um assunto que está incomodando muito a bancada, mas não teve a minha iniciativa”, afirmou Lira.
Os senadores ficaram ainda mais incomodados com Renan após sua articulação para desacelerar a tramitação da reforma trabalhista Após pressão do peemedebista com a oposição, a proposta também vai passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) – além da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e de Assuntos Econômicos (CAE) que já haviam sido acordadas. Parte da bancada considera que Renan se pronuncia por interesse próprio e não expressa o sentimento da maioria.
Nesta quarta-feira, Renan voltou a criticar a reforma trabalhista durante reunião com as centrais sindicais no Senado. “Vamos conversar com quem for, os trabalhadores precisam ser ouvidos. Mas não podemos permitir que esse desmonte se faça no calendário que essa gente quer”, declarou. Ele cumprimentou líderes sindicais pela greve geral da última sexta-feira contra as medidas econômicas defendidas pelo governo e se colocou à disposição para encaminhar “propostas consensuais”.
A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) tentou marcar uma reunião de toda a bancada com Renan para conversar, porém o líder adiou o encontro para a próxima terça-feira, 9.