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Tchau, querido

Juízo final mostrará que fora do jogo será pouco para Bolsonaro

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior8 - Foto de Arquivo/Joédson Alves

Paralelamente ao início do julgamento dos terroristas presos por conta do 8 de janeiro, o TSE já tem parecer da Procuradoria-Geral da República em favor da inelegibilidade de Jair Messias, aquele mesmo que um dia se achou mito. O posicionamento da PGR é o primeiro passo para o cadafalso. O segundo é a caneta do meu, do seu, do nosso Xandão, o xerife que virou o calo mais pontudo do pé direito do Jair. Aliado a tudo isso, o ministro Alexandre de Moraes determinou à Polícia Federal que ouça o senhor das joias árabes em dez dias, prazo que começou a contar em 15 de abril. Ou seja, a conta chegou e o dia do juízo final está cada vez mais próximo. Sem querer chutar as glândulas prostáticas do moço, acho que o cenário não é nada tranquilo, nada favorável.

Não tenho aptidões futuristas, tampouco sensibilidade de vidente, mas o spoiler que qualquer astrólogo de rádio do interior daria hoje é que o bicho vai pegar. Inelegibilidade talvez seja pouco para o que ele aprontou contra o país e contra o povo. Como não uso toga, prefiro poetizar o desfecho dramático que eu, ele, o Brasil e o planeta estão imaginando: Tchau, querido. Boa viagem ao mundo novo do patetismo íntimo e do abandono político. Praticamente alijado dos próximos pleitos eleitorais e da vida pública, Jair Messias sofrerá em breve o pior dos castigos para um cidadão metido a mito e descompensadamente vaidoso ao extremo da direita: o ostracismo.

Não sei nem se a ideia de se candidatar ao Senado Federal vai vingar. Sei que, na condição de centrípeta (o contrário de centrífuga), a extrema-direita é um eterno incômodo para a sociedade que preza e briga pela liberdade. Apesar da preocupação com os talibãs, a ausência de um líder é sinônimo de desfazimento do grupo. Pior do que a falta foi a aposta em um falso líder. O profeta do apocalipse político errou feio, atirou no que viu e acertou no que não viu: ele mesmo. O despreparo para o comando, a certeza da impunidade e o emburrecimento de parte da população brasileira quase o transformaram em um saltitante tirano. Ficou apenas no arremedo. O feitiço atingiu em cheio o peito varonil do feiticeiro. A punição é algo para mais alguns dias, semanas, talvez meses.

Não tenho predileção por extremos, mas, na hipótese do emparedamento e da liberdade vigiada, optei pela alforria e pela autonomia sem custos. O problema é que ainda há candidatos a déspotas escondidos pelo país. Localizados prioritariamente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, eles hoje são bem menos do que eram, mas continuam se achando poderosos, absolutistas, prepotentes e opressores. São os analfabetos políticos, conforme definição do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht. É a mais pura verdade. Aliás, o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala e nem participa dos acontecimentos políticos. Também não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do arroz, do peixe, da farinha, do aluguel, do calçado e do remédio dependem das decisões políticas.

Segundo Bertolt Brecht, o analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. “Não sabe que, de sua ignorância, nascem a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, o explorador do povo”. Jamais tive dúvida, mas a cada dia me convenço mais sobre a tese popular de que o melhor do Brasil é o brasileiro. Uma pena que nem todos compreendidos nesse gentílico saibam usar para o bem a força de que dispõem. Não sou inimigo de Jair Messias, mas tenho pavor de seus projetos sanguinários. Por isso, me associei à vontade da maioria em torno de objetivos comuns. O resultado eleitoral mostrou que as mudanças podem acontecer quando há compatibilidade de propósitos.

Tudo a ver com 2022. Vivemos um período de incertezas e descontentamento generalizado. Alguns protestaram nas ruas, outros bateram panelas nas janelas ou varandas de apartamentos, mas todos buscavam por novos rumos. Passados pouco mais de 100 dias, a torcida é que o governo de Luiz Inácio III tenha começo, meio e fim. A alma já foi lavada. Quem sabe Xandão nos ajude a enxaguá-la, secá-la e, como em 1985 (data da aposentadoria definitiva dos generais), a varrer para debaixo do tapete os espíritos de porco que ainda infestam a pátria amada. Que voltemos a ter paz sem sobressaltos. Um passo já foi dado: o STF formou maioria para tornar réus 100 denunciados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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