Notibras

Júlio, brigão, é contido pelo pacificador Roberto

Creio que todos possuem aquele amigo covarde, que prefere dar uma boiada para não entrar numa briga e, ao contrário daquela frase popular, também oferece outra boiada para sair de qualquer pendenga. Pois bem, no meu caso, o inimigo da coragem sou eu. Afinal, para que arrumar confusão, se a vida sem hematomas é tão mais prazerosa?

Meu amigo Júlio é uma figura interessante. Ele, ao contrário de mim, é metido com essas coisas de artes marciais, enquanto sou afeito a esportes mais lúdicos como, por exemplo, adedanha. E, apesar dos gostos tão discrepantes, somos amigos desde os remotos tempos de criança, quando brincávamos no balanço ou na gangorra do parque no centro da quadra, na Asa Norte. Aliás, a mesma quadra onde ainda residimos.

Após tantos anos de convívio, o Júlio parece que não me conhece muito bem. É que, na semana passada, aconteceu algo conosco. Quer dizer, o lance ocorreu com ele, enquanto eu fui apenas um mero expectador de mais uma insanidade do meu amigo. Pois bem, lá estávamos nós dois no boteco do seu Aurélio, aqui mesmo no bairro, quando o instinto de galo de briga do Júlio não se conteve dentro das penas.

Dois trogloditas, desses que parecem que não saem da academia, ao passarem pela nossa mesa, deram aquela encarada. Para piorar a situação, um dos caras ainda esbarrou, certamente sem querer, na cadeira do Júlio, que não gostou. Pra quê? Ele quis porque quis tirar satisfação com aqueles homens muito maiores do que a maioria de nós, meros mortais.

Tentei trazer algo que meu amigo parece desconhecer, que é aquela dita cuja da razão. Não adiantou, pois ele tentou me convencer a acompanhá-lo naquela contenda sem qualquer sentido.

— Vamos lá, cara!

— Pra quê?

— Vai deixar barato essa provocação?

— Olha que o barato pode sair caro.

— Tu é mesmo um frouxo, Roberto!

— Não sou frouxo, Júlio. Apenas tenho noção da força que não possuo.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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