No cenário paradisíaco do litoral nordestino, onde o azul do mar encontra o calor das areias douradas, Júnior, um homem de sorriso largo, tornou-se o centro das atenções de uma maneira inesperada. Em meio a turistas, vendedores ambulantes e famílias locais, ele trajava sunga e uma camiseta que denunciava o massacre do povo palestino pelo Estado de Israel. Ao seu lado o compadre Ninito, companheiro de velha data, fazia coro, com a ‘Amareinha’, mesmo que abundantemente verde, cobrindo o corpo.
Abordado por libaneses de uma mesa próxima, Júnior demonstrava não carregar apenas uma bandeira comum, mas transmitia mensagens de solidariedade, com frases que soavam em tons de vermelho e verde: “Liberdade para a Palestina” e “Apoio ao povo palestino”.
Os olhares curiosos vieram de todos os lados. Houve quem risse discretamente, achando que se tratava da excentricidade de mais um brasileiro criativo. Outros franziram a testa, buscando entender a conexão entre aquela camisa e as palavras de apoio a uma causa que parecia tão distante das águas mornas do Nordeste.
Mas Júnior não se intimidou. Andou confiante, parando aqui e ali para conversar com quem tivesse interesse. Explicava com paixão o porquê de sua vestimenta inusitada. “Eu sou brasileiro, mas sou cidadão do mundo. E o que acontece lá na Palestina afeta a todos nós. Liberdade é um direito universal!”
O pequeno grupo de libaneses se emocionou. Eles se aproximaram de Júnior e, em meio a aplausos, começaram a compartilhar histórias de parentes que viviam no Oriente Médio. Foi ali, naquela troca improvisada, que a praia parou.
Os nativos, inicialmente reticentes, começaram a prestar atenção. O que começou como uma curiosidade transformou-se em um pequeno movimento de solidariedade. O vendedor de picolés ofereceu um sorvete a Júnior como um gesto de apoio. O casal de idosos que vendia redes fez questão de lhe dar uma de presente, dizendo: “Você está usando sua voz de um jeito bonito, moço”.
Enquanto o sol baixava no horizonte, colorindo o céu de laranja, Júnior, o homem que se vestiu com a bandeira para falar de liberdade, havia conquistado não apenas aplausos, mas também corações.
Ali, naquela praia nordestina, ele nos lembrou que a solidariedade pode se manifestar nas formas mais inesperadas — e que até uma bandeira pode carregar mais do que um símbolo; pode ser um chamado para olhar além do próprio quintal.
A tarde avançava. Voltaram para suas vidas com a certeza de que, por menores que sejam as ações, elas carregam o poder da mudança. Talvez, pensaram, se as águas do Atlântico e do Mediterrâneo podem se misturar, os homens também podem. E enquanto o mar embalava os passos de cada um, firmava-se um pacto silencioso — o sonho de paz é mais forte que qualquer guerra.