Era um menino nascido às margens de uma cidadezinha lá do sul daquele reinado. Não passava grandes necessidades e conseguiu estudar para compreender os problemas do lugarejo. Passava o tempo da sua vida procurando ajudar no que pudesse aos seus vizinhos e conterrâneos mais próximos. Não entendia como tinha tudo que precisava, enquanto outros morriam daquela fome que vai desnutrindo chegando à fraqueza mortal ou moral.
Resolveu estudar mais ainda para compreender a origem destas coisas, convenceu aos seus pais, saiu para a cidade grande e cursou a universidade. Aprendeu na teoria o caminho para a resolução do problema, mas não entendia o por quê de tudo continuar da mesma forma. Falou para o seu pai sobre a sua frustação, só queria ajudar as pessoas necessitadas invisíveis nas vistas das autoridades.
“Menino esquece isso e vive a tua vida!”, disse o patriarca. Não se conformou e procurou o administrador local; com cuidado, ele explicou como era difícil as coisas e como nada funcionava. Ouviu e ficou mais decepcionado, se revoltou com tudo que lhe foi dito. “Esquece isso, garoto! Cuida da tua vida!”, disse o servidor. Explodiu de raiva e ameaçou procurar a Rei. Disseram onde ficava o castelo, era muito distante e havia um custo muito grande para conseguir aquela empreitada.
O jovem voltou para casa e trabalhou muito. Era sol, era chuva, era dia, era noite de trabalho muito cansativo, mas o projeto era animador. Anos e mais anos se passaram naquele trabalho exaustivo, mas o pensamento era o mesmo. Construiu um lar e uma família, encontrou os recursos necessários e disse: “Agora vou embora e vou sozinho porque a questão é entre nós, eu e o Rei”.
Caminhou por muitos vilarejos, grandes e pequenos, percebendo que as condições não eram diferentes e havia mais injustiça. Meses e meses vivenciando aquilo na estrada sem fim, já se sentia cansado. Pensou em desistir, mas tinha a certeza de que mudaria a condição de todos os habitantes, não poderia fraquejar agora, neste estágio adiantado do seu projeto. Seguiu e chegou na grande cidade.
Passou uma semana procurando o castelo, percebeu que eram várias as moradias da Majestade, mas precisava encontrar onde o Rei ficava. Perguntava aqui e acolá, até encontrar uma pista. Encontrou um súdito pedinte numa praça e perguntou onde encontraria o monarca. “Você não é daqui e nem conhece a Sua Majestade, não é? Por que não desiste e vai embora deste lugar”. Insistiu na pergunta e ofereceu dinheiro ao interlocutor, pagando pela informação. “Preciso disso!”, pegou o dinheiro e mandou seguir em frente. “Cuidado porque ele é mau, você não vai escapar, estou assim por causa dele”.
Caminharam muito, chegando na praça, apontou a direção da entrada do palácio com muita discrição, e saiu calado.
Chegou na guarda do castelo e disse que queria falar com a Sua Majestade. Perguntaram quem era ele, ou, a mando de quem estava ali. Respondeu que estava representando a vontade de todo o povo. O Rei ficou curioso e resolveu atender aquele súdito desorientado, parecia estar tranquilo numa estranha paz. “Meu caro o que lhe traz a estas paragens, soube que viestes de longe!”, disse a Majestade.
O visitante ficou impressionado com aquela solicitude. E não desperdiçou a oportunidade: “Andei por muito tempo nestas terras longínquas para me reportar perante a Sua Majestade sobre as condições do Seu Reino.” E foi logo dizendo: “Ele é muito justo com poucos, injusto com os criminosos e pouco justo com os bons.” A digna Majestade, arregalou os olhos, franziu a testa e com apenas um gesto fez o sonhador sentir a sua justiça decepar a sua cabeça.
Despertou no Reino de Hades e lá procurou os deuses querendo saber porque havia tanta maldade e injustiça no mundo. Foi recebido por Pandora que pacientemente explicou que há milênios a deusa Têmis mandou o seu representante, o Justo, e eles não o receberam. Pregaram-No em uma cruz e o velaram até escorrer a última gota de sangue. Paciência, em breve a justiça e o bem irão reinar naquele mundo, o seu tempo e esforço não serão perdidos. O sonhador acordou com aquela palavra ressoando em seus ouvidos: Paciência…