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Juvêncio, Dorival, o carro novo e a prótese quebrada

Distraído por distraído, os moradores da quadra e vizinhança afirmavam categoricamente que ninguém o era mais do que Juvêncio, que desde os tempos de rapazola andava por ali. Gostou tanto do lugar, que acabou se engraçando para cima da Noêmia, moçoila distinta, filha da dona Arminda e do seu Orlando.

Todos sabiam de cor e salteado diversas histórias envolvendo o descuidado. No entanto, aqui vale contar uma que aconteceu por esses dias, quando, caso você não saiba, o Juvêncio e a Noêmia já estão casados e com quatro filhos. Quatro filhos. Para você ver! E mal chegaram a quatro anos de casados. Mas não se espante, pois não foi por descuido. É que tiveram quadrigêmeos.

Mas voltemos ao causo em questão. Pois fique sabendo que o Juvêncio, que mora em um amplo apartamento, com direito a garagem e tudo, precisou comprar um novo carro pra família, que, como você percebeu, cresceu muito além do esperado. Uma belezura, do jeito que a Noêmia escolheu. De tão espaçoso, poderiam até se hospedar confortavelmente naquela perua. Só faltou instalar um banheiro.

Mal parou diante da garagem, nem precisou acionar o controle para abrir o portão, que já estava aberto. Juvêncio, todo orgulhoso ao volante, foi estacionar aquele iate sobre rodas. Manobra daqui, manobra dali, uma quase esbarrada naquela pilastra acolá, finalmente conseguiu estacionar sem uma arranhãozinho sequer. Que alívio!

Desceu do veículo e foi em direção ao elevador, quando encontrou o velho Dorival, o zelador do prédio. Juvêncio cumprimentou o funcionário e os dois tiveram um pequeno interlúdio.

– Belo automóvel.

– Pois é, Dorival. Agora a família cresceu e a Noêmia exigiu um carro que coubesse todo mundo.

– Isso mesmo. Mas preciso ir, pois hoje me quebrou a dentadura, e vão arrumar daqui a pouco.

Juvêncio, então, passou a olhar com mais curiosidade para o Dorival, que falava com os dentes ao som de enredo de escola de samba. Não demorava, aquela coisa despencaria das gengivas do velho. Ficou ali observando e divagando, até que o zelador apontou para o portão da garagem, onde se encontrava um rapaz.

– Vou lá, Juvêncio. O rapaz que vai arrumar a dentadura do portão chegou.

Juvêncio sorriu e se despediu do Dorival. Mal entrou no apartamento, encontrou a esposa e as crianças esparramadas pelo amplo tapete da sala.

– Que cara é essa, Juvêncio? Aconteceu alguma coisa com o carro?

– Que nada, a dentadura era outra.

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