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Juventude deixa a lição certa de como gozar a velhice

Muito mais do que um escrevinhador pervertido, sou um escutador atento. De minhas anotações auriculares surgem algumas das histórias que conto. Outras são do dia a dia de qualquer cidadão, seja ele rico ou pobre, eleitor ou político, pagador ou gastador. Na prática, sou um seguidor diário das teses poéticas do brasileiro Carlos Drummond de Andrade. No entanto, não abro mão dos ensinamentos do filósofo e teórico suíço Jean-Jacques Rousseau, mas normalmente me calo diante e da máxima do moralista francês François La Rochefoucauld, príncipe de Marcillac. Silencioso e honesto, o mineiro Drummond afirma que há duas épocas na vida – infância e velhice – em que a felicidade está numa caixa de bombons.

Já Rousseau ensina que é na juventude que devemos acumular o saber, de modo a fazermos uso dele na velhice. Mais racional, La Rochefoucauld é definitivo ao desdenhar das teorias dos mais jovens e definir a velhice como uma tirania que proíbe, sob pena de morte, todos os prazeres da juventude. Com todas as vênias possíveis, voto de olhos fechados com o relator. Aliás, devo dizer contra os jovens que são eles que não aceitam nossa incompetente concorrência. O que temem? Podemos ter mais tempo, melhores condições, mas experiência, mas falta-nos o principal: equipamento rígido capaz de adentrar solo mais profundo e recintos mais fechados.

É por conta dessa sensação de derrota 40 minutos antes do jogo começar que me sinto na obrigação de usar da verborragia do português Manuel Maria Barbosa du Bocage para contestar a turma que consegue dar oito em uma hora. Com toda minha disposição de ex-atleta de alcova proibida, hoje, mesmo após algumas tentativas pirotécnicas, esqueço as técnicas e sufocantemente consigo uma em oito horas. Portanto, incorporando o espírito do Bocage, digo-lhes que “criticar minhas atitudes é um direito teu. Cagar para tua opinião é um privilégio meu”. De qualquer maneira, e reconhecendo toda minha atual incompetência a respeito do prazeroso tema, ainda sou capaz de me sentir em melhores condições do que alguns antigos amigos que fizeram da infância um negócio de velho.

Deixaram de viver quando podiam. Passadas algumas décadas, querem viver, mas já não podem. Dia desses, durante um almoço de confraternização, ouvi uma dessas conversas inesquecíveis. E não são tristes. De tão reais, elas acabam se transformando em piadas sobre o próprio falo, hoje um esquálido e desenxabido piu piu. Antes de seguir com a história, devo contextualizar o tal almoço como uma daquelas ocasiões em que a gente conta o que nunca fez, deixa de contar o que anda fazendo e, deliberadamente, omite o que já faz tempo não faz. É um tédio, mas muitos acabam encontrando soluções para determinadas deficiências. É o caso explícito de um amigo alcunhado de ídolo sexual da maioria dos companheiros da velha guarda.

Os comentários são estrogonoficamente simples. A profundidade é o detalhe. Um diz para o outro que não tem conseguido dormir. Deita, lê, liga a televisão e nada. Leva horas para alcançar o sono. Alguns segundos de organizador silêncio e ele ouve do interlocutor a resposta que não queria ouvir: Eu durmo sempre como um anjo. Intrigado, o sem sono indaga o que o parceiro de idade faz para dormir. Me masturbo, responde o que dorme fácil. Agora, pensativos minutos depois, o mal dormido pergunta: Bate uma? Sim. Sério? Sério. E sente orgasmo? Não, mas me canso e aí durmo como um anjo. Drummond que me perdoe, mas o resumo da ópera é bocagiano: Está com dificuldade de pegar no sono, use a mão. Ideologicamente, a esquerda é mais democrática. Todavia, é a direita que nos faz cansar. Basta de ansiolíticos. Em suma, dorme melhor quem usa a juventude como ensinamento para gozar a velhice.

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