Durante as gravações de No Woman, canção que se tornaria o maior sucesso da recentemente criada Whitney, o duo Max Kakacek e Julien Ehrlich não se satisfazia com o registro da voz do segundo no verso de abertura da música. A frase “I left drinking on the city train” (algo como “eu parei de beber no trem da cidade”), dentro da estética lo-fi de não aparar demais os ruídos e apresentar vocais propositalmente desleixados, soava como “high life drinking on the city train” – cuja tradução livre seria “cheio da grana, bebendo no trem da cidade”. Era exatamente o oposto do momento de reflexão vivido pelo personagem da canção que se tornou o carro-chefe de Light Upon the Lake, o álbum de estreia do duo, lançado no ano passado.
Porque a introspecção – e não a ostentação – é a força que segura o volante do Whitney nessa estrada bucólica pela qual a banda transita. Kakacek (guitarrista) e Ehrlich (baterista e vocalista do duo que se transforma em uma banda mais numerosa ao vivo) absorvem o blues e o soul produzidos em Chicago há décadas e os transformam em uma linguagem intimista.
Há, na delicadeza dos falsetes de Ehrlich e nos vazios sonoros que a banda se propõe a deixar, um quê de trilha sonora de uma road trip, aquelas viagens de carro que são comuns nas produções cinematográficas e literárias norte-americanas. Há de se fazê-la sem ninguém ao lado, de preferência. Já o cenário, algum deserto ensolarado ou uma estradinha por florestas temperadas do norte dos Estados Unidos, é indiferente. O Whitney funciona no quente e no frio, simultaneamente – o que impressiona.
Dias antes de embarcar para São Paulo, para uma apresentação única no País nesta terça-feira, 14, no Fabrique Club, um espaço para shows na Barra Funda, Kakacek celebrava a boa aceitação de Light Upon the Lake, um disco criado pela dupla sem grande pretensão, depois que eles deixaram grupos de algum apelo no universo da música alternativa norte-americana. Ele tocava na Smith Westerns enquanto Ehrlich foi baterista da Unknown Mortal Orchestra, uma banda que foi especialmente importante no movimento de resgate da psicodelia no rock um par de anos atrás.
“Estávamos só brincando de fazer música, honestamente falando”, diz o músico, por telefone. “Fomos inventando, criando canções, nunca pensávamos em fazer algo que fosse sério. Eu acho que o som do Whitney tem algo que pega”, explica. Ele usa a palavra “catchy”, que pode ser traduzida como “cativante”, mas seu sentido vai mais longe do que isso: é daquelas canções que “te pegam”, mesmo. “Fazemos música para realmente capturar as pessoas nesses ambientes sonoros.”
Depois de um par de anos agitados, com o lançamento do Whitney, com o hype criado em torno da banda e as inevitáveis e longas turnês, Kakacek e Ehrlich desfrutam um momento de tranquilidade e silêncio nas casas onde moram, ainda em Chicago. “É importante ter essa vida normal de novo”, diz Kakacek, ao prometer um novo disco para 2018. “Assim a gente consegue descansar a cabeça. Não é difícil criar músicas quando se toca todas as noites.”