Ex-repórter
Ladrão de carteiras é fichinha junto de quem se esconde sob uma saia
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Não é o ladrão de carteiras que me assusta. Nem o estelionatário que vende terrenos na Lua ou multiplica dinheiro com um passe de mágica. O pior dos criminosos não empunha armas, não invade cofres, não foge da polícia em carros roubados. Ele é mais astuto, mais perigoso. Ele rouba algo que o tempo não devolve e que dinheiro nenhum compra: a honra alheia. Mas, como a vítima é honrada, recupera toda a sua glória.
Ele age no silêncio das sombras ou no barulho ensurdecedor das redes sociais. Suas armas são palavras envenenadas, insinuações calculadas e narrativas meticulosamente distorcidas. E, como todo vilão, ele nunca age sozinho. Tem ao seu lado alguém que o fortalece, que o protege e que potencializa sua capacidade destrutiva. Uma mulher poderosa, influente, intocável. Ela não suja as mãos; apenas dá a estrutura para que o jogo sujo aconteça.
Juntos, eles tentam destruir reputações com a facilidade de quem amassa um pedaço de papel. Espalham boatos como se fossem verdades absolutas. Criam um tribunal sem direito de defesa, onde a condenação vem antes do julgamento. E quando o estrago está feito, seguem em frente, sem olhar para trás, deixando um rastro de lama. Mas a vítima, reitero, recupera o fôlego, aguarda o momento e parte para o ataque. Já não é mais caça. Vira caçador.
O dinheiro roubado pode ser recuperado. A honra, que ele não tem, não. E por isso, esse é o pior dos crimes. O que tenta em vão matar sem derramar uma gota de sangue. O que, com fórceps draconianos enferrujados, busca arrancar a dignidade de profissionais ilibados com um sorriso maquiavélico no rosto.
Tudo isso acontece até o dia em que o jogo vira. Porque, cedo ou tarde, a verdade sempre encontra um jeito de dar as caras.
Remake com roteiro atualizado. O pior dos criminosos não é aquele que invade cofres, mas o que saqueia reputações. Não é o que rouba bens, mas o que rouba a verdade. Esse, meu amigo, não usa capuz nem revólver. Usa a língua como navalha e se esconde atrás de saias, como um Don Juan falido — só que sem charme, sem beleza e, pior, com o hálito de um sargento Garcia depois de uma noite de aguardente e cebola.
Ele não tem talento para nada além da trapaça. Vive pendurado nos favores de uma mulher poderosa, que o banca, protege e pavimenta o caminho para suas canalhices. Ele mente, distorce, cospe veneno — mas jamais responde por nada. Foge da justiça como o diabo da cruz, sempre encontrando um jeito de escorregar pelas brechas do sistema, como uma barata que se esconde no rodapé quando a luz acende.
A tática é velha, mas falível: usa sua madrinha como escudo, enquanto desfere golpes baixos. E quando tudo ameaça desmoronar, ele se faz de vítima, de injustiçado, de pobre coitado. Porque canalha que se preza nunca cai sozinho — ele sempre arrasta alguém junto para a lama, de preferência alguém inocente. Mas inocentes são fortes. E só resta sujar a barra da saia da dama de lama.
Assiste-se, ora indignado, ora cúmplice, deixando que esse verme prospere. Mas a vida, essa sim, tem seu jeito cruel de acertar as contas. Um dia, a proteção acaba, a saia some, e ele se vê nu diante da verdade. E aí, meu amigo, nem reza forte vai livrá-lo da queda.
Porque, no fim das contas, até os mais escorregadios acabam tropeçando.
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José Seabra é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras