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Jogo de damas

Ladrão entra em casa e Helena, inocente, desconhece o perigo

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Marcia e Marcio, por brincadeira, começaram a namorar há quase 30 anos, quando, ainda adolescentes, fizeram juras de amor eterno. O relacionamento não passou de um verão, até que, quase dez anos após, os dois se reencontraram em um barzinho. Dessa vez, não teve jeito. Os dois engataram um romance, que dura até hoje.

O casal mora em uma bela casa, dois andares, quatro quartos, sendo um deles usado como atelier dela, além da garagem, de tão espaçosa, tem servido para guardar as tralhas do Marcio. Bagunceiro além da conta, ele passa boa parte do tempo livre martelando pregos, lixando ripas de madeira, apertando parafusos, menos aquele que dizem que permanece frouxo na cabeça.

Francisco, filho do meio, passa horas trancado no quarto, onde toca piano sem parar. O rapaz, talentoso que é, sonha em viver de música. Helena, a caçula, possui uma gaita, que quase sempre deixa repousada sobre a cabeceira ao lado de sua cama. Já o mais velho, Pedro, há tempos saiu de casa para ganhar o mundo ao som de sua guitarra.

Pois o que aconteceu por esses dias pode parecer história inventada, mas a realidade, não raro, pode ser mais surpreendente do que a própria mentira. Que seja um tanto de uma, outra pitada de lorota, o importante é que é um caso, no mínimo, curioso.

Marcia, que quase nunca sai para passear com os cachorros, Cacau e Coco, justamente nesse dia, fez o que era tarefa do marido. Enquanto isso, Marcio, com uma furadeira nas mãos, furava a parede da garagem para pendurar um quadro da sua banda de rock favorita, Graxelos. Quanto ao Francisco, estava empolgado tocando Villa-Lobos.

Helena, que acabara de acordar, permaneceu deitada na cama olhando para o teto. Ela pensou que é muito bom acordar ouvindo o irmão ao piano, logo ali no quarto vizinho, apesar da barulheira provocada pelo pai, que insistia em furar a tal parede. Nisso, eis que a porta se abre. Era um homem, que a menina julgou ser um dos amigos do pai.

O sujeito encarou a garota, que lhe sorriu. Ela puxou conversa e o convidou para brincar de damas. Ele se sentou na cama e os dois jogaram quatro ou cinco partidas, todas vencidas por Helena.

— Acho que acordei com sorte.

O homem, após quase uma hora por ali, se levantou. Olhos arregalados, observou ao redor. De repente, viu uma pequena boneca de pano ao lado. Não teve dúvida, a pegou e saiu correndo do quarto. Enquanto isso, Helena, ainda imaginando que aquilo fosse mais uma brincadeira entre os dois, sorriu. Mal sabia a garota que aquele sujeito era um ladrão.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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