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Lamborghini e Bugatti estão com uma roda na F-1

O circo da Fórmula 1 deve pegar fogo na próxima temporada. É que a Volkswagen, por meio de uma de suas subsidiárias, avalia entrar nas pistas para tapar o buraco deixado pela Honda e Renault (que vai se chamar Alpine), a Volkswagen não tem nada a ver com a F1 e seus complexos motores V6 turbo de 1,6 litro e cerca de 1.000 cavalos de potência.

Muita gente argumenta que a Volkswagen pode entrar não com sua própria marca, mas com uma marca do Grupo Volkswagen. As apostas recaem sempre na Porsche (com enorme tradição no automobilismo) e na Audi (sucessora da Auto Union dos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial). Afinal de contas, a Porsche e a Audi até recentemente estavam no WEC e ambas se consagraram nas 24 Horas de Le Mans com protótipos que também não têm nada a ver com os carros de rua.

Mas tanto a Audi quanto a Porsche decidiram apostar suas fichas na Fórmula E. Se não é nem Porsche nem Audi, menos chances ainda teriam a Skoda e a Seat, marcas da Volks na República Tcheca e na Espanha. A solução — que cairia como uma luva para a Fórmula 1 — seria a entrada de duas marcas de supercarros do Grupo Volkswagen: a italiana Lamborghini e a francesa Bugatti. Não acredito muito que isso possa acontecer, mas é fato que a Lamborghini e a Bugatti se tornaram um problema para a Volks justamente por causa da questão da emissão de carbono (a mesma que fez a Honda dar adeus à F1).

Fontes europeias dizem que até novembro a Volkswagen terá que decidir o que fazer com a Lamborghini e a Bugatti, duas marcas tradicionalíssimas que deixaram os alemães de Wolfsburg numa sinuca de bico. Fechar as duas marcas? Seria um crime contra a cultura automobilística. Investir milhões de euros para tentar fazer seus supercarros (notadamente beberrões) cumprirem as metas de emissão sem tirar o prazer da condução? Afinal, é por isso que os fãs pagam valores extratosféricos para ter um Lambo ou um Bugatti na garagem. Mas vale a pena? Ou seria melhor vender as marcas?

Uma das possibilidades que está sobre a mesa dos chefões de Wolfsburgo é vender as duas marcas para a novata Rimac, uma jovem montadora da Croácia que se propôs a desenvolver carros elétricos de alta performance. Tanto que recentemente a Porsche adquiriu 10% da Rimac para desenvolverem alguns projetos juntas. Mas, apesar de tudo isso, faria sentido ter a Lamborghini e a Bugatti na Fórmula 1? Talvez.

A Lamborghini é a rival número 1 da Ferrari. A empresa nasceu em 1963 porque seu criador, Ferruccio Lamborghini, que era fabricante de tratores, não gostou de uma resposta que recebeu de Enzo Ferrari ao reclamar de um problema na embreagem de seu carro (uma Ferrari). Ferruccio então decidiu fabricar seus próprios carros — e fez coisas incríveis. Um dos engenheiros que ele contratou era Gian Paolo Dallara, que viria a se transformar num dos mais prestigiados fabricantes de chassis de carros de corrida.

Atualmente, a Lamborghini tem forte presença no automobilismo. Desde 2013, a marca criou uma divisão de pesquisa e desenvolvimento de carros de corrida, a Lamborghini Squadra Corse. A divisão de motorsports da Lamborghini atua em quatro frentes: 1) dando apoio às equipes em corridas do Lamborghini Super Trofeo em três continentes; 2) promovendo campeonatos de Lamborghini GT3 também em três continentes; 3) dando cursos de pilotagem na Lamborghini Accademia; 4) realizando programas para jovens pilotos. Por que não colocar energia no desenvolvimento de motores de Fórmula 1?

Quanto à Bugatti, a marca francesa não tem presença atualmente no automobilismo, mas sua tradição nas corridas é muito maior do que a da Lamborghini. A Bugatti foi criada por Ettore Bugatti, em 1909, e acabou fazendo enorme sucesso nas pistas. A marca conquistou vitórias marcantes. Por exemplo: os três primeiros GPs de Mônaco, disputados em 1929, 1930 e 1931, foram vencidos por carros da Bugatti — os dois primeiros com um Type 35 e o terceiro com um Type 51. Somente em 1932 ela foi derrotada nas ruas do Principado, por Tazio Nuvolari a bordo de um Alfa Romeo. A Bugatti voltou a ganhar em 1933. Alguns pilotos daquela época, como Chiron e Veyron, dão nome aos super carros da Bugatti.

Tanto a Lamborghini quanto a Bugatti já participaram da F1 moderna. A Bugatti participou do GP da França de 1956, mas não era a mesma dos anos 30. O carro pilotado por Maurice Trintignant largou em 18o lugar a abandonou depois de 18 voltas. A Lamborghini fez várias tentativas. Como equipe, foi um fiasco na temporada de 1991. Mesmo com o ótimo piloto Nicola Larini e Eric van de Poele, só conseguiu se classificar em seis das 16 corridas daquele ano. O melhor resultado foi um 7o lugar de Larini em Phoenix (EUA). Como fornecedora de motores, a Lamborghini fez cinco temporadas: 1990 (Lola), 1991 (Lola e Lotus), 1992 (Lamborghini e Ligier), 1992 (Minardi e Venturi) e 1993 (Larousse). Em 90 GPs, conseguiu um belo pódio no GP do Japão de 1990, com Aguri Suzuki (Lola), na dobradinha de Nelson Piquet e Roberto Moreno pela Benetton Ford-Cosworth.

Tradição e afinidade, portanto, não faltam para a Lamborghini e a Bugatti investirem na Fórmula 1. O problema maior talvez não seja o desejo do Grupo Volkswagen, mas sim a própria indecisão da F1 quanto ao seu futuro. Desde que os atuais motores V6 híbridos foram introduzidos na categoria, já houve tentativas de mudança, que acabaram sendo barradas pelas montadoras envolvidas na categoria. Pelo Pacto da Concórdia, os atuais motores vão até 2025. Para atrair novos fabricantes de motores, a Fórmula 1 precisa acima de tudo oferecer previsibilidade — definir o quanto antes qual será a próxima configuração de motores. Nenhum fabricante de motor vai investir uma fábula numa categoria que não sabe para onde quer ir. A indústria de carros sabe para onde quer ir: no caminho da redução (ou eliminação total) das emissões de carbono. Mas será que a F1 também quer tomar esse rumo?

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