O samba sacode
A cabrocha que balança
E o choro definha
Nas cordas de um bandolim.
O batuque se inicia
E as lágrimas escorrem do copo
Como suor da própria terra.
A semente em delírio
Mergulha em profundezas
De poesia e beleza.
Germina a lira embevecida
Cheia de lua e boemia.
Sombras da vida
– subvidas em celebração.
Uma festa de cheiros lânguidos,
Sapatos reluzentes,
Calças dançantes…
O linho veste o negro
O preto empunha o pinho
E o prazer de cantar a dor
Une-se à prosa libertina
Do nosso cotidiano.
Aguardente que banha fiéis,
Oração que atravessa a noite
Em versos úmidos de calor.
E no bradar da pregação,
Um malandro retinto
Mastiga uma hóstia de couro
E desce do púlpito
Com um pandeiro na mão.
Ergue o lenço,
Seca o brilho da nuca
E Madalena mulata
Roda a saia e suas prendas.
Numa procissão de bambas
O cruzeiro é o firmamento
E cada alma é uma estrela
Deitada num manto negro
Em reza e perdão.
A fé se desmancha em pinga
Sob a aba do chapéu de palha
E a vida é toda ela
Impressões num sudário vulgar.