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Lasso assume para dar guinada de direita

O novo presidente do Equador, Guillermo Lasso, assumiu o cargo com um discurso que promove a unidade dos distintos setores políticos e a “abertura do país para o mundo”. A cerimônia de posse, realizada na Assembleia Nacional, contou com a presença de alguns representantes do principais governos de direita da região, entre eles Jair Bolsonaro, Sebastián Piñera (Chile), Jovenel Moise (Haiti) e o rei da Espanha, Felipe VI.

“Abriremos o Equador a tratados de livre comércio com nossos aliados mais importantes, vamos inserir-nos plenamente no mundo para buscar um comércio livre e justo”, afirmou, em seu primeiro discurso.

A Casa Branca enviou sua embaixadora na ONU, Linda Thomas-Greenfield, a subsecretária para o Hemisfério Ocidental, Julie Chung, além do embaixador no Equador, Michael Fitzparick, e o conselheiro de segurança Juan González.

O novo chefe de Estado prometeu vacinar 9 milhões de equatorianos nos seus primeiros 100 dias de gestão. No último período, uma crise desencadeou a renúncia de dois ministro da Saúde por denúncias de um esquema de desvio de imunizantes. Até o momento, o país vacinou 1,89 milhão de habitantes e acumula 419 mil casos e 20.193 falecidos pelo novo coronavírus, segundo dados oficiais.

Ainda nesta segunda, o banqueiro irá assinar seus três primeiros decretos para nomear seu novo gabinete de ministros, o Estado Maior das Forças Armadas e um Código de Ética.

Lasso recebe um país em evidente crise, com uma dívida de US$ 40,2 bilhões (cerca de R$ 221 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), 476 mil pessoas desempregadas, 32% da população em situação de pobreza e 17% em situação de pobreza extrema, segundo cifras do Institiuto Nacional de Estatística do Equador (INEC).

Outro assunto polêmico será o fim dos subsídios dos combustíveis. Moreno conseguiu aprovar uma lei que diminui gradativamente o valor subsidiado pelo Estado no preço final da gasolina e do diesel. A política de subsídios existe há mais de 20 anos no país petroleiro.

No entanto, a partir de agosto deste ano, a gasolina deve alcançar preços internacionais, já o diesel deverá chegar a esse patamar em março do ano que vem. Em outubro de 2019, uma medida similar fez o país viver 11 dias de estado de sítio.

“É inevitável, ele terá que ceder em algo, e eu acredito que seria no corte dos subsídios. Ou terá que assumir o custo político de que lhe sejam bloqueados vários pontos da sua agenda no Legislativo”, sugere o cientista político equatoriano Diego Pérez Enríquez.

A cerimônia de posse foi acompanhada por manifestações contra o novo presidente e denúncias da gestão de Lenin Moreno, que deixa o cargo com apenas 9% de aprovação popular.

Lasso apresentou um gabinete com 14 ministros para seus próximos quatro anos de gestão / Reprodução / Twitter

Novo gabinete
O novo chefe de Estado anunciou 14 nomes para formar seu gabinete. Entre os mais destacados está o conselheiro da presidência, Aparício Caicedo, chefe do tanque de pensamento (think tank) Equador Livre, que faz parte da Rede Liberal da América Latina.

Já o novo ministro de finanças, Simón Cueva, disse acreditar “em políticas sérias, não em populismo” e anunciou promover três reformas: tributária, trabalhista e previdenciária.

Enquanto o novo ministro de Trabalho é o líder da aliança Criando Oportunidades (Creo), Patrício Donoso, ex-presidente da Assembleia Nacional equatoriana, quem prometeu “investigar o correísmo”, grupo político vinculado ao ex-presidente Rafael Correa.

O chanceler será o ex-embaixador equatoriano na Austrália, Maurício Montalvo. Já o cônsul em Miami será o diretor do jornal El Universo, Emilio Palacio, acusado de promover notícias falsas sobre a gestão de Correa.

As únicas mulheres do grupo são: Tanlly Vera, que assumirá a pasta de Agricultura, para “promover o cultivo de mais produtos no Equador”; Vianna Maino, na pasta de Telecomunicações; e Ximena Garzón, que assume o ministério da Saúde.

Lasso assegurou que uma das suas prioridades será combater a desnutrição infantil, que afeta duas a cada cinco crianças de até 5 anos no Equador.

Presidente do Partido Popular da Espanha, Pablo Casado foi um dos presentes no Fórum Ibero-americano pela Liderdade / Reprodução / Twitter

Alianças Regionais
Um dia antes da cerimônia de posse, Lasso participou do Fórum Ibero-americano: Desafios da Liberdade, evento organizado pela Fundação Internacional pela Liberdade, que reuniu uma série de representantes da extrema-direita da América Latina e da Espanha, entre eles, o presidente do Partido Popular da Espanha, Pablo Casado, e da recém-eleita prefeita de Madri, Isabel Díaz Ayuso. Também a candidata à presidência do Peru Keiko Fujimori (Força Popular), o escritor peruano Mario Vargas Llosa, e os opositores venezuelanos Leopoldo López e María Corina Machado, protagonistas de tentativas de golpe na Venezuela.

O autoproclamado Juan Guaidó também enviou uma mensagem, afirmando que ambos trabalharão juntos “para defender a democracia na região”. Guaidó ainda afirmou que sabe do compromisso de Lasso com a Venezuela.

Para a plataforma de direita, Lasso é um novo aliado contra a “ameaça do comunismo” na região ibero-americana.

“No aspecto simbólico será relevante, poderá exercer algum tipo de pressão sobre a Venezuela, sobre os movimentos sociais colombianos, mas me parece que cada país estará tão submerso nas suas complexidades, que não poderão fazer mais do que somar no aspecto simbólico, repercutindo certas conjunturas. Duvido que haverá um efeito determinante”, analisa Enríquez, membro do Instituto de Altos Estudos Nacionais do Equador.

No Parque Arbolito, centro da capital equatoriana, centenas de manifestantes protestaram contra a posse de Lasso / Ana Guerrero / El Comercio

Relação com Assembleia Nacional
No Parlamento, a organização Creo se uniu ao partido Esquerda Democrática e ao movimento indígena Pachakutik para formar a aliança governista, com 57 deputados. Na primeira sessão, elegeram para ocupar a presidência do Legislativo a deputada Guadalupe Llori, liderança de origem indígena.

No entanto, o União Pela Esperança (Unes), partido do ex-candidato à presidência Andrés Arauz, ocupa 49 do total de 137 cadeiras, sendo assim o partido que, individualmente, possui a maior bancada na Assembleia Nacional.

Enquanto o partido Social Cristão, aliado de Lasso durante a campanha presidencial, elegeu 17 deputados.

Yaku Pérez, terceiro colocado nas eleições presidenciais, desligou-se de Pachakutik depois do pacto com o partido de Lasso, discordando da “agenda neoliberal que irá continuar com o extrativismo”.

“O único elemento que une a esquerda de Pachakutik e a direita de Creo era rechaçar a chegada do correísmo ao poder. Ideologicamente, carecem de mais pontos de encontro. Mas isso não garante necessariamente governabilidade. Estas alianças estão atadas a conjunturas muito específicas, a projetos de lei específicos e, na prática, dificilmente duram mais de seis meses”, afirmou Diego Pérez Enríquez.

O cientista político equatoriano explica que desde a década de 1980, o Executivo e o Legislativo equatoriano tem uma relação de disputa de poderes. “Assim que culminam as alianças possíveis, a figura do presidente se torna irrelevante e facilmente substituível”, defende.

Para ele, Yaku Perez manteve sua postura mais à esquerda para manter seu respaldo político e tentar disputar uma nova candidatura à presidência no futuro. Enquanto o novo presidente terá de encontrar mais pontos de conciliação com a nova aliança no Legislativo.

 

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