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No alto sertão...

Laura descobre traição ao sentir perfume revelador

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Afrontosa. Afrontosa! Pois foi disso que a calhorda da Mirtes me chamou. Afrontosa é ela, que não tem vergonha de pedir emprestado e não devolver depois. Não que tenha sido comigo, pois não sou mulher de emprestar as coisas para quem nem me dá bom-dia.

De tão abespinhada que fiquei, quero cuspir a farofa que está engasgada aqui na goela. Cuspo e quero ver se aquela pulha tem coragem de desdizer o que vou dizer. E se digo, é verdade! Ou coisa perto dos acontecidos, já que não vou ficar buscando defeito na história que me contaram. Se quiser acreditar, acredite ou, do contrário, vá procurar o que fazer e não me venha atazanar as ideias. A chaleira está fervendo, e não vou perder tempo com descrente.

O causo é o seguinte. Ah, digo mais! Quem me contou foi a própria Laura, mais uma das inúmeras vítimas da Mirtes. E já adianto que a Laura não é mais afeita a mentiras do que qualquer um de nós. Que tenha alguns exageros, isso é do jogo. Ou você vai querer dar uma de moralista e falar mal daquele gol de mão a favor do seu time? Ah, me poupe!

Um perfume. Tudo foi por causa de um maldito perfume que a Laura comprou no camelô. Perfume importado, por assim dizer. Que fosse falsificado, não importa, já que a história não vai ficar menos onerosa para a bandida da Mirtes. A fedentina é certa.

A Laura, que estava sossegada em casa após mais um dia de labuta, ouviu a campainha tocar insistentemente. Mesmo cansada, foi ver quem era. E quem era? A salafrária Mirtes, que veio pedir um vestido emprestado.

— Veja lá o que você vai aprontar com esse meu vestido, hein, mulher!

— Pode ficar tranquila, amiga! Te devolvo lavado, passado e engomado.

Convencida pela lábia da Mirtes, a Laura, inocente como ela só, ainda caiu na conversa de deixar que a outra levasse o frasco do tal perfume mais caro que petisco em bar de bacana.

Quase duas semanas depois, nada da Mirtes devolver o vestido nem o perfume. A maldita sumiu do mapa, como se estivesse se escondendo das obrigações. Todavia, como não dá para tatu ficar entocado durante muito tempo, eis que algo inesperado aconteceu.

A Mirtes não apareceu, mas o Orlando, o namorado da Laura, que também andava sumido, deu as caras. O gajo, que teria dito que iria fazer uma viagem de última hora, tudo a mando do patrão, finalmente retornou para os braços da amada. Entretanto, a Laura, cuja tolice foi logo deixada de lado, percebeu algo que a fez ligar os pontos.

— Orlando, seu descarado! Nem me venha com desculpas, pois conheço muito bem esse perfume.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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