Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo
A Operação Lava Jato investiga o pagamento de propinas em contrato do Banco do Brasil com a Ação Informática Brasil. Dois ex-sócios da empresa revelaram em depoimento à Polícia Federal (PF) terem repassado valores para a Credencial Construtora Empreendimentos e Representações – acusada de ser empresa de fachada usada para lavagem de dinheiro no escândalo Petrobras – por “consultoria” em negócio de fornecimento de software para o banco, fechado em 2010, por R$ 53,2 milhões.
A Credencial, que tem sede em Sumaré (SP), pertence a Eduardo Aparecido de Meira e Flávio Henrique de Oliveira Macedo, ambos presos em maio na 30ª fase da Lava Jato (Operação Vício). A firma seria usada pelos donos para intermediar negócios no governo federal – em áreas de óleo e gás, energia e tecnologia – com vínculos com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (governo Lula).
A força-tarefa considera ter provas do repasse de dinheiro de corrupção da Credencial para Dirceu em contratos de fornecimento de tubos para obras da Petrobras.
Os investigadores buscam agora informações sobre quem a Credencial – suspeita de ser de fachada – pagou em serviço prestado à Ação Informática no contrato do Banco do Brasil. Quebra de sigilo bancário da Credencial revelou a transferência de R$ 4,9 milhões da Ação Informática, nos meses seguintes ao contrato com o banco estatal.
A força-tarefa suspeita que os pagamentos para a investigada por corrupção e lavagem tenham ocultado propina para agentes públicos e políticos.
A relação entre a Ação e a Credencial passou a ser investigada no início do ano, após o juiz federal Sérgio Moro, da Lava Jato, em Curitiba, autorizar as quebras dos sigilos fiscal e bancário da empresa ligada a Dirceu. Os R$ 4,9 milhões foram repassados entre 19 de abril e 26 de junho de 2010. Eles começaram dias depois da Ação participar, em fevereiro, de uma licitação do Banco do Brasil para fornecimento de software e vencer o contrato, fechado em março.
“A única relação que a Ação teve com a Credencial foram os pagamentos efetuados a pedido do representante da Memora em virtude do procedimento licitatório do Banco do Brasil”, afirmou Mauricio David Teixeira, ex-vice-presidente da Ação responsável pela área de governo e grandes contas. “O contrato licitado, em questão, girava em torno de cinquenta a sessenta milhões de reais.”
A Memora Processos Inovadores – citada pelos dois ex-sócios da Ação, Enio Issa e Maurício David Teixeira, era uma das empresas concorrentes na licitação do Banco do Brasil. Ela e a Ação Informática são firmas brasileiras que fornecem sistemas de informática e tecnologia, que representavam a norte-americana Oracle Corporation – desenvolvedora dos softwares fornecidos ao banco. As três empresas negaram, por meio de suas assessorias de imprensa, qualquer irregularidade.
O Banco do Brasil informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não há qualquer registro de atuação da empresa Credencial” com o banco, “diretamente ou na forma de consultoria” e que os contratos com a empresa Ação Informática “sempre estiveram em situação de total regularidade e normalidade”.
Os donos da Credencial negam irregularidades e informaram que atuavam para prospectar negócios de empresas como a Ação Informática. “A Credencial não é empresa de fachada e não é pagadora de propinas, apesar das acusações do Ministério Público Federal”, diz nota divulgada pela defesa dos donos da empresa.