Pensamento unânime no Congresso Nacional: daqui prá frente, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal, os trabalhos legislativos se desenvolverão em clima de alta temperatura. Não haverá amizade, confiança, lealdade, cordialidade, podendo ocorrer imprecações entre os parlamentares. Tudo por conta do desfecho da Operação Lava Jato anunciado no final da semana.
Os presidentes da Câmara (Deputado Eduardo Cunha) e do Senado (Renan Calheiros) foram colocados em suspeição por envolvimento nas roubalheiras milionárias na Petrobras. Serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal. Na mesma situação deles estão 12 senadores e 22 deputados federais, que fazem parte da base aliada do governo e são ligados ao PT, PMDB e PP. Da oposição, foi colocado na lista de suspeitos o ex-governador de Minas Gerais e hoje senador Antonio Anastasia (PSDB).
Todos eles serão investigados em 23 inquéritos, que reúnem 50 indícios de corrupção passiva, 50 de lavagem de dinheiro, 28 formação de quadrilha e uma evasão de divisas (senador Fernando Collor). Outros 14 políticos, sem privilégios do foro especial, serão também investigados por desvios na Petrobras, mas em outros tribunais. Na lista, o ex-ministro Antonio Palocci.
Esse imbróglio todo serviu para distanciar mais ainda o PMDB do PT, que vinham sustentando o governo no Congresso.
Quem perde mais com este divórcio é a presidente Dilma, que ficará sem força para a aprovação dos projetos do governo, entre eles as medidas impopulares necessárias para viabilizar o acerto de contas do Executivo. Só com este ajuste ela poderá pensar em sair do fundo do poço, onde ela mesma se jogou pelo seu primeiro desastrado governo.
Houve estouro da boiada no Congresso Nacional. A vaca não está reconhecendo seu bezerro. O próprio presidente da Câmara, Eduardo Cunha, depois de relacionado como um dos beneficiados dos roubos na Petrobras, anunciou que jogará duro contra o Palácio do Planalto. Ele acusa a presidente Dilma de envolvê-lo neste escândalo.
A presidente vai precisar gastar muita saliva para agrupar seus antigos apoiadores. Precisará de um milagre para promover uma reviravolta na economia. A inflação está próxima de 10%, a taxa de juros em alta, dólar ultrapassando os três reais e as contas públicas sem controle. A popularidade da presidente caindo dia após dia. E, para piorar esse calvário, tem as manifestações populares por todo país, previstas para amanhã, domingo (15), com mensagens pedindo seu impeachment.
Um aperitivo dessas manifestações aconteceu domingo passado, à noite pelas ruas das principais capitais do país: vaias em meio a panelaços e buzinaços contra a presidente. Isso ocorreu justamente durante seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, em defesa do ajuste fiscal. Ela fazia um apelo à população para ajudá-la a vencer o atual momento de crise. O protesto foi convocado pelas redes sociais.
Será lenta, tortuosa e áspera a caminhada dos 34 políticos apontados como, supostamente, envolvidos nas roubalheiras milionárias na Petrobras. Estima-se que os trabalhos dos cinco ministros da 2° turma do Supremo Tribunal Federal durem mais de um ano, podendo chegar a dois anos. A qualquer ação desses ministros, os envolvidos no processo estarão no centro do noticiário da imprensa. Sempre de forma negativa, lembrados como enroscados em malfeitos. A opinião pública os olhará de forma enviesada. Os apontará como “culpados” pela prática de um crime. Embora, ainda não comprovado. Assim funciona no Brasil.
Nos meios políticos e jurídicos há duras críticas ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Ele é acusado de ter adotado uma posição “confortável” ao sugerir abertura de 28 inquéritos contra todos os acusados. É que, em alguns casos, já existem elementos para o oferecimento direto da denúncia. Rodrigo Janot preferiu ficar em cima muro, olhando o circo pegar fogo.
Cláudio Coletti