Lavínia e Otacílio haviam se visto pela primeira vez há pouco mais de um mês. O rapaz, apesar de ter se encantado pela moça logo de cara, não parecia ter sido correspondido. Nem por isso, ele deixara de tentar a sorte, pois não era do tipo que desistia facilmente, ainda mais diante de uma paixão, mesmo que de verão.
A garota estava enamorado por outro, que lhe parecia muito mais atraente. Para ser sincero, creio que até o próprio Otacílio concordaria, já que o Dimas era o que se poderia ser chamado de pedaço de mau caminho. Seja como for, lá estavam a Lavínia e o bonitão aos beijos cada vez mais atrevidos no último banco do ônibus a caminho de Cabo Frio, onde passariam o feriado prolongado de carnaval.
Assim que o coletivo chegou à rodoviária da famosa cidade da Região dos Lagos, o casal, eufórico, quis porque quis descer logo para continuar o namoro, que prometia, em local mais apropriado, longe de olhares curiosos. E foi o que os dois fizeram. Pegaram um táxi ali mesmo e rumaram para a casa alugada na praia do Peró. Amaram-se como dois jovens apaixonados!
A noite foi tomando conta do ambiente. Lavínia vestiu-se pela primeira vez desde que chegara àquele local. Otacílio, com seus músculos salientes, a tomou no colo e a beijou pela enésima vez. Teve ímpeto de despi-la novamente, mas o som do animado bloco de carnaval vindo lá de fora o fez desistir. Colocou sua fantasia de pirata e puxou a amada para rua, onde pretendiam pular durante as próximas horas.
Voltaram para a alcova quando o astro rei anunciava os primeiros raios. Ainda tiveram ânimo para se amarem uma vez antes de adormecerem abraçadinhos sob o lençol, cada vez mais testemunha daquele amor. A despeito das milhares de pessoas que desfrutavam a linda praia bem em frente, naquele quarto só era possível escutar a respiração exausta de Lavínia e Dimas.
Despertaram com tanta fome, que devoraram aquele macarrão com salsicha como se fosse a melhor das iguarias. Os dois se beijaram com a boca borrada de molho de tomate e, se dependesse dele, fariam amor ali mesmo na cozinha. Lavínia, entretanto, puxou o namorado para o conforto do sofá, onde os dois se entregaram àquela paixão sem limites. Ou quase.
O dia foi virando noite, a noite se transformou em novo amanhecer, até que chegaram os derradeiros momentos da festa mais popular do Brasil. O casal, não querendo deixar aqueles momentos se esvaírem, continuava firme no baile bem diante da praia do Peró. Inúmeros jovens compartilhavam daquele desejo.
A festa insistia em prosseguir, quando a Lavínia, apertada para fazer xixi por conta das inúmeras cervejas, foi até o banheiro. Aliviou-se como uma deusa sentada no trono. Toda sorridente, quis voltar para os fortes braços do amado. No entanto, para a sua surpresa e desgosto, eis que lá estava o Dimas aos beijos e abraços com outra.
Sem fazer cena, a garota foi chorar suas lágrimas diante do mar. Ela não conseguia acreditar que o seu namorado, o amor da sua vida até então, fosse capaz de traí-la. Chorou por quase uma hora sentada naquela areia fria, até que, mexendo no seu aparelho celular, encontrou o número do Otacílio. Lavínia mal se lembrava do rosto do rapaz. Nem por isso conseguiu evitar o impulso de telefonar para ele, que atendeu quase ao primeiro toque.
– Lavínia?
– Sim.
– Tudo bem?
– Não.
– O que houve? Onde você está?
– Estou em Cabo Frio, olhando a praia. Mas é quase como se o mar não fosse o mesmo sem você.