Léa Leal brilhava tanto quanto a Vênus Platinada

José Escarlate

Uma figura marcante do governo do presidente João Figueiredo era Léa Leal, cujo nome verdadeiro era Leoncie Léa Correia Leal, mas que sempre foi tratada por Leinha. Uma das primeiras assistentes sociais do pais, ela era braço direito e protegida de dona Darcy Vargas, mulher do presidente Getúlio Vargas e presidente da LBA.

De forma dominadora e acostumada às benesses do poder, Léa Leal frequentava diariamente a Granja do Torto desde o governo Médici, quando Figueiredo comandou o Gabinete Militar. Ela integrava um círculo fechadíssimo, tendo inclusive conseguido a indicação de muitos amigos na formação do governo.

Unha e carne com a primeira dama, marcou presença no banho de sol na piscina da Granja do Torto com Dona Dulce e a mulher do coronel Aimée Lamaison, que seria nomeado Governador de Brasília, de quem se tornou conselheira.

Certa vez, acompanhada de uma amiga, Léa Leal foi almoçar no restaurante Piantella, um dos mais badalados da cidade. Na mesa ao lado estavam Darcy Ribeiro e seu cunhado, embaixador Zoza Médicis – João Augusto Médicis. Desligados, em papo animado, os dois falavam do presidente e do deslumbramento de dona Dulce. De ouvidos apurados, Léa levou tudo aos ouvidos do presidente Figueiredo. Discretamente, ele moveu o seu tabuleiro de xadrez diplomático, retardando ao máximo a carreira de Zoza Médicis, transferindo-o para uma remota embaixada na África.

Contam as más línguas que, um dia, dona Dulce e Léa Leal resolveram dar uma guaribada no rosto, já cheio de rugas. Contataram um conhecido cirurgião plástico, que aceitou dar um jeito nas duas. Elas foram operadas no mesmo dia e, segundo línguas ferinas, de tão amigas e unidas, as duas saíram do hospital iguais. Isto é, uma com a cara da outra. Apesar de tudo, dos maus momentos, ela era normalmente afável, acessível, simpática e indiferente às lendas que a envolviam.

Léa Leal era amiga do armador chinês Y. K. Pao. Mas essa outra história é para contar depois.