José Seabra
Interesses contrariados. Esse foi o principal motivo que levou a secretária de Planejamento do Distrito Federal, Leany Lemos, a demitir o professor José Carneiro Cunha Neto da coordenação das Parcerias Público Privadas do Governo de Brasília. A decisão, tomada nesta sexta-feira, 8, caiu como um petardo nos meios políticos e empresariais da capital da República e pode abrir um rombo ainda maior nos já deficitários cofres administrados por Rodrigo Rollemberg, segundo avaliação de assessores que circulam livremente pelos corredores palacianos e pela residência oficial de Águas Claras.
Um dos confidentes mais próximos do governador admitiu a Notibras que Leany foi tomada por um acesso de ciúmes, ao se sentir preterida, pelo próprio governador, nas discussões diretas envolvendo as PPP’s. A simples demissão de José Carneiro não satisfez a secretária. Na esperança de mostrar que quem manda é ela, Leany também decidiu afastar seu mais novo desafeto da presidência do Conselho Fiscal da Terracap, e jogar no lixo o relatório conclusivo para a pronta ocupação do Centro Administrativo.
A transferência do gabinete de Rollemberg e de todos os secretários para Taguatinga estava agendada para meados de março. Os últimos detalhes, como locação (e não aquisição, que oneraria ainda mais os cofres públicos) do mobiliário e a contração de empresa de vigilância, conservação e serviços gerais seriam tomadas na mesma sexta-feira, 8, com audiência pública e lançamento de pregão eletrônico. Com a decisão de Leany, a mudança voltará a estaca zero. E o estudo desenvolvido por José Carneiro e sua equipe de assalariados será confiado a uma empresa de consultoria, que a secretária de Planejamento quer contratar a um custo de 9 milhões de reais.
Quem mais sentiu o golpe com a intempestiva decisão de Leany Lemos não foi José Carneiro. Interlocutores do professor garantem que ele vai se dedicar mais à cátedra, como titular da cadeira de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de Brasília. Na realidade, o lado contrariado foi o do consórcio que construiu o Centro Administrativo, formado pelas empresas Odebrecht e Via Engenharia.
As duas empreiteiras tinham a garantia de Rollemberg que todo o imbróglio da ocupação do espaço estaria resolvido até abril. A partir daí, o consórcio teria direito a receber cerca de 20 milhões de reais por mês, ao longo dos próximos 25 anos, a título de reposição do investimento de 3 bilhões de reais empregados na construção do Cetro Administrativo. Agora, com a postura de Leany, há a ameaça de judicialização do processo, com as empreiteiras exigindo na Justiça o pagamento imediato das parcelas mensais retroativas a dezembro de 2014, época em que o então governador Agnelo Queiroz deu a obra como entregue.
Procurados por Notibras, o professor José Carneiro e a secretária Leany Lemos não retornaram as ligações.